sábado, 6 de novembro de 2010

«a rendição desse olhar»

O último poema do Viandante, com o título «Roubo», torna-se denso dos sentido que irrompem na já tão prolongada expectativa do poema a vir / por vir.

«Definha a rosa». Definha com este tempo de espera, a rosa que na continuidade do poema-vida se revitaliza e floresce. «Poema contínuo», direi, apropriando-me da iluminada escolha de H.H. de tal título. 

Nesta espera, adensam-se as sombras do temor que suscitam de que o Verão tenha de alguma forma podido lograr o roubo de que é instituído ameaça. Não que esta estação, chegada ao termo, seja intrínseca à rosa ou ao poema. Intrínseca direi ser a indiciada luta-sedução «dia e noite» travada com «esse olhar» que se rende e na rendição se entrega e abandona.
Grande parece, porém, ser o poder de um Verão que, contra-natura, se quer perpetuado. Suave, no contraste, o do Outono, no seu silencioso chamamento a um incondicional abandono ao que, sem luta, contempla.
Que, nesta luta desigual, seja Sua a vitória.