quarta-feira, 18 de maio de 2011

mais uma vez aqui

Agora deixo simplesmente que o tempo voe sem me perturbar com isso.Um outro tempo (outros mais haverá) corre paralelamente a uma velocidade diferente. Os registos que aqui se deixam só são distanciados no tempo dito real, pois que, no seu próprio tempo (que criam), cada um que se acrescente aproxima de si o anterior, não mais o mesmo, mas, sujeito, como tudo, à «lei da suplementaridade», sempre outro.

Diria ser assim que de imediato se me manifesta num texto o que o faz poético, não sendo a poeticidade uma propriedade das palavras, antes lhes advindo ou sobrevindo. O que experimento, porém, e que me envolve numa como que tristeza ou desalento, é a incapacidade de reajustar estes dois tempos anulando, no que voa, o in between responsável pelo distanciamento que as datas assinalam. É esta impossibilidade que me faz perder o élan, que, em face de um poema, atribuo em parte à energia do "outro", ainda suficientemente densa em torno do acontecimento que me suscita a escrita. Com o tempo, ela dissipa-se e fico como que a sós comigo mesma. O "terceiro", se irrompe, é sobretudo deste diálogo para todos os efeitos entre mim e mim mesma (ainda que sempre "outra" também).Quando uma parte de mim se dilui e dá lugar a um Tu é como se uma saída do labirinto, sempre claustrofóbico (evoco a este respeito um texto de Vergílio Ferreira, verdadeiramente angustiado e angustiante, que deixarei aqui), se me abrisse adiante, cheia de luz.