Poema e glosa
Escreve D.B. na contracapa do que será o seu primeiro livro:
"A verdade é que não deixei de escrever, embora não redija nada numa folha de papel há muito... Creio que a escrita pré-existe, de facto, à fala e, mais ainda, ao próprio pensamento (...)".
Diria que assim é, mesmo quando a escrita não é mais, nem mais se pretende, do que um glosar, um dar forma ao sentir ou pensar envolvido na leitura e fruição do poema, deste ou daquele poema singular e único, deste ou daquele verso ou versículo. A glosa mais não é do que a tentativa sempre inglória de moldar o silêncio inerente à sua dimensão perlocutória como silêncio que se quer fazer oração (e esta pode assumir múltiplas formas).
D.B. continua: "São textos inteiros que surgem na minha mente, esperando ser lidos e fruídos, como o o som da música ou a luz do sol sobre os campos, que então se tornam verde-solar".
Uma glosa é a fruição cristalizada, em estado sólido (tal como "um livro é silêncio em estado sólido", segundo Quignard), do poema (ou de um seu verso ou versículo.) A escrita que lhe pré-existe, a escrita antes da escrita que a cristaliza, é a fruição fluida, líquida, etérea, ígnea do poema (penso em Traherne e na exaltação que faz da fruição do mundo), o verde solar dos campos, manifestação em cor do calor e do frio livres das leis da termodinâmica (o mesmo é dizer, livres das leis da física conhecida, neste espaço de limiar em que uma outra física se deixa pressentir na sua fascinante inconceptualidade).
Mesmo para a mera glosa, a sua escrita pré-existe à fala e ao próprio pensamento. Porém, o texto inteiro que surge na minha mente é a pura fruição daquele que leio e fruo. Quase diria que a criação e a sua própria fruição é à imagem da criação e fruição divinas, enquanto é humana (e feminina, o que é já uma outra questão) a fruição do que é criado. Assim se ligam o poema e as múltiplas formas de glosa que suscita ou envolve.
"A verdade é que não deixei de escrever, embora não redija nada numa folha de papel há muito... Creio que a escrita pré-existe, de facto, à fala e, mais ainda, ao próprio pensamento (...)".
Diria que assim é, mesmo quando a escrita não é mais, nem mais se pretende, do que um glosar, um dar forma ao sentir ou pensar envolvido na leitura e fruição do poema, deste ou daquele poema singular e único, deste ou daquele verso ou versículo. A glosa mais não é do que a tentativa sempre inglória de moldar o silêncio inerente à sua dimensão perlocutória como silêncio que se quer fazer oração (e esta pode assumir múltiplas formas).
D.B. continua: "São textos inteiros que surgem na minha mente, esperando ser lidos e fruídos, como o o som da música ou a luz do sol sobre os campos, que então se tornam verde-solar".
Uma glosa é a fruição cristalizada, em estado sólido (tal como "um livro é silêncio em estado sólido", segundo Quignard), do poema (ou de um seu verso ou versículo.) A escrita que lhe pré-existe, a escrita antes da escrita que a cristaliza, é a fruição fluida, líquida, etérea, ígnea do poema (penso em Traherne e na exaltação que faz da fruição do mundo), o verde solar dos campos, manifestação em cor do calor e do frio livres das leis da termodinâmica (o mesmo é dizer, livres das leis da física conhecida, neste espaço de limiar em que uma outra física se deixa pressentir na sua fascinante inconceptualidade).
Mesmo para a mera glosa, a sua escrita pré-existe à fala e ao próprio pensamento. Porém, o texto inteiro que surge na minha mente é a pura fruição daquele que leio e fruo. Quase diria que a criação e a sua própria fruição é à imagem da criação e fruição divinas, enquanto é humana (e feminina, o que é já uma outra questão) a fruição do que é criado. Assim se ligam o poema e as múltiplas formas de glosa que suscita ou envolve.
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