a comunhão dos santos
De insondável profundidade é o texto do Evangelho de ontem: Luc 20, 27-38. Tomo a liberdade de extrair um excerto de uma homilia / reflexão relativa a este Domingo (que encontrei no site Piccolo Rifugio) que me parece um comentário extremamente lúcido:
«Jesus é interpelado de propósito por um grupo de saduceus, com uma provocação de escárnio: "Na outra vida de quem será esposa a mulher que ficou viúva dos sete maridos?". A ironia dos interpelantes também esconde, porém, uma pergunta verdadeira, que todos nós trazemos no nosso íntimo: como será a vida para além da morte? Uma pergunta que todavia corre o risco de se traduzir numa curiosidade (...) É exactamente à nossa curiosidade que Jesus não dá resposta, mas quer acender no coração a verdadeira esperança: a vida vem de Deus, e só em Deus encontrará cumprimento. (...) Jesus não veio para fundar uma nova religião que vai ao encontro de Deus, mas veio para anunciar o ligame profundo de amor que nos liga com Deus Pai. Veio para nos dar aquela comunhão com Ele que nunca e nada poderá desunir. Nem sequer a morte.»
Porquê, mais adiante, a ressalva sobre a linguagem «típica do seu tempo» de Lucia Schiavinato (1900-1976) com respeito à citação, extremamente pertinente, que é feita das suas palavras neste texto? Transcrevo e sublinho essa citação:
«existe uma plenitude de vida em Deus, e na misteriosa mas verdadeira comunhão entre nós em caminho para Deus e quantos com Ele já vivem na plenitude, ou ainda estão purificando o próprio coração para uma comunhão mais plena.»
Estas palavras, esta linguagem, são de todos os tempos. Sempre senti por parte da igreja instituída um receio tácito, com o consequente silenciamento, do tema da «comunhão dos santos», muito embora constitua um dos artigos do Credo dos Apóstolos. Pergunto mesmo se não terá sido a sua omissão no Credo Niceno uma das razões que levou à sua adopção na missa em substituição do "Credo antigo".
Coloquei no blogue que dedico a Thomas Traherne um passo de Centuries sobre a «comunhão dos santos», palavras que verdadeiramente me suscitam o desejo de vestir a pele da sua enunciatária e com ela acolher estas palavras na expectativa do seu cumprimento neste «tempo que resta», que é o do «já e ainda não».
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