de novo a poesia
A poesia, como a oração, é essencialmente "relação" e, como tal, do domínio do acontecer. Relação do eu consigo mesmo ou com o outro / Outro, relação que, como tantas vezes o sublinhei (numa combinação da visão de R.M. com a minha própria vivência), compreende (sob pena de não se tratar nem de uma coisa nem de outra) um «terceiro» interveniente que é em si mesmo o próprio mistério intrínseco ao momento em que cria a relação de que nasce.
É assim que a poesia e a palavra se implicam mutuamente, podendo dizer-se que, neste seu modo de relação com a palavra, a poesia é também o silêncio antes e depois dela, um silêncio que é, em diversos graus, «música calada», culminando naquele de que S. João da Cruz dá conta no contexto a que o traz no Cântico Espiritual.
A poesia, como a oração, envolve, pois, sempre uma passagem para um outro nível ou intensidade de «vibração» (ou de «existência»). Se a «orientação do coração» é crucial no modo do seu acontecer, também a diferente experiência de vida de cada um (em que incluo, sem separações, a experiência de leitura / escrita) tem aí o seu peso e o seu papel.
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