sábado, 4 de dezembro de 2010

A questão das imagens (3)

 
colhida aqui
Como é evidente, também de nós mesmos construímos imagens na base das quais se sustenta (ou não) a "auto-estima" (conceito hoje tão empolado e dominantemente tão mal-entendido). A indignação e a revolta, mas também a mágoa e a dor advêm da discrepância entre a imagem que fazemos de nós e a que sentimos que nos está a ser «colada» pelo "outro". Quanto mais «privilegiado» ele for, tanto maior e mais profunda a tristeza decorrente.


Alheio a uma  e  outra "pele" (e ao atrito entre uma e outra) está o "referente", o que verdadeiramente somos e que quero acreditar corresponder dominantemente ao que, do fundo do coração, mais desejamos ser.  Tal o desejo que "anima" a espécie de «avatar» (poderia acrescentar o filme aos  meus favoritos) que irrompe desta escrita vestido na "pele" (desejada azul) do seu "sujeito da enunciação": sempre outro na voz - e na imagem - que lhe for dada na leitura. Também o mundo da escrita é feito de imagens a construir com o "material" fornecido (de onde o temor que sempre me assiste na sua escolha).

Na consciência clara de que nos é inerente construir imagens e ciente da sua precariedade, aprendi (a recapitulação que me permite verbalizá-lo consolida ao mesmo tempo o conteúdo da aprendizagem) a estar a todo o momento pronta a desconstruí-las e não hesitar em fazê-lo. A acreditar na influência dos astros, a lua em Balança, o Sol em Leão e o ascendente em Virgem não poderiam ser mais propícios a este exercício. A esta conjugação astral devo talvez também o ter sido sempre tão avessa a «fazer ondas,» ou a «deixar marcas na paisagem» (na formulação do primeiro dos poetas que haveria de encontrar «no caminho da montanha», depois de percorrida toda a planície, como numa «história de encantar»).
Como «caminho da montanha» vejo este último troço da peregrinação. Acolho a imagem que me «veste» e «veste» o "outro" (tornando-o «privilegiado») que no caminho encontro na pele de peregrinos, caminhantes, seguindo uma estrela e por ela tocados de modos diferentes, porém, complementares - ou não irrompesse a poesia, como o sublinhou Rilke, «na produção, como na recepção»... (Um outro filme que colocaria entre os favoritos seria «Encontros imediatos do 3º grau» - a que pertence a imagem que escolhi - pela beleza e simbologia do "chamamento" da montanha).