A questão das imagens (1)
Há textos que nos sobressaltam e marcam para toda a vida. O impacto deste, de Max Frisch, data dos tempos da Faculdade (o excelente professor de Língua Alemã, Hans Schemann, soube dar-lhe especial destaque entre os da antologia). O texto intitula-se «Du sollst dir kein Bildnis machen» e glosa o versículo bíblico - Exodus: 20,4 - com enfoque no "outro" à semelhança de quem nos deveríamos abster de fazer imagens.
Aprendi com o tempo que as imagens que construímos do "outro" (o processo é, naturalmente recíproco) funcionam como redes que só deixam passar os "traços" que as consolidam, até que, à maneira dos paradigmas científicos, se esboroam e desfazem quando a multiplicação das «anomalias» os abala e faz entrar em crise. Isto explicaria tanto o ardor inicial como o desencanto final da relação amorosa e o papel conferido pelos românticos à morte na sua preservação. A corroborá-lo temos toda a literatura novelesca.
Que peso não terá tido este texto de Frisch (e toda a literatura que sustentou todo o meu imaginário de então) no relacionamento que iniciara (teria dezoito anos) e que, tant bien que mal, haveria de se sustentar por toda a vida? Ironicamente vejo advir todos os problemas com que me confronto hoje das imagens que me afivelaram ao rosto e me fazem sentir, neste espaço em que me movo, como uma espécie de "prisioneiro da máscara de ferro". Não vêem que eu não sou como me vêem? Esta pergunta é um grito sufocado em mim, aceite que foi por mim, desde há muito, encarar a situação (bem como o inerente isolamento a que me vejo votada num espaço na construção do qual, para todos os efeitos, tive um papel) como intrínseco ao percurso de aprendizagem que me pertence levar até ao fim.
Aprendi com o tempo que as imagens que construímos do "outro" (o processo é, naturalmente recíproco) funcionam como redes que só deixam passar os "traços" que as consolidam, até que, à maneira dos paradigmas científicos, se esboroam e desfazem quando a multiplicação das «anomalias» os abala e faz entrar em crise. Isto explicaria tanto o ardor inicial como o desencanto final da relação amorosa e o papel conferido pelos românticos à morte na sua preservação. A corroborá-lo temos toda a literatura novelesca.
Que peso não terá tido este texto de Frisch (e toda a literatura que sustentou todo o meu imaginário de então) no relacionamento que iniciara (teria dezoito anos) e que, tant bien que mal, haveria de se sustentar por toda a vida? Ironicamente vejo advir todos os problemas com que me confronto hoje das imagens que me afivelaram ao rosto e me fazem sentir, neste espaço em que me movo, como uma espécie de "prisioneiro da máscara de ferro". Não vêem que eu não sou como me vêem? Esta pergunta é um grito sufocado em mim, aceite que foi por mim, desde há muito, encarar a situação (bem como o inerente isolamento a que me vejo votada num espaço na construção do qual, para todos os efeitos, tive um papel) como intrínseco ao percurso de aprendizagem que me pertence levar até ao fim.
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