sábado, 28 de maio de 2011

O «sétimo sentido» e o voo em altura

Se temos um sexto sentido para a apreensão do que não é - ou não é só - do domínio da física que conhecemos, diria que somos ainda dotados de um sétimo,  inerente ao todo (físico-psíquico-espiritual) que somos, que nos propicia, não "tocar" a "Compreensão", mas ser "tocado" por ela. Poderia chamar generalizadamente "mística" a experiência que o envolve, ao alcance de todos e que todos de alguma forma conhecem ("sei do que estás a falar" é uma forma habitual de verbalizar este conhecimento). 
Claro que, assim como se pode ser cego ou surdo, perder o olfacto, o paladar e até a sensibilidade da pele,  também o sexto e muito especialmente este sétimo sentido podem não funcionar. A esta deficiência, porém, talvez porque, com a Modernidade, se generalizou, não é dada qualquer atenção. No entanto, não será de lhe atribuir esse mal que do mesmo modo se generalizou e a que se dá indiscriminadamente o nome de "depressão"? Um estado depressivo afigura-se-me particularmente grave quando, não estando directamente ligado a uma situação (desaparecendo, com o fim desta), é acrescido da falta do que atribuo a este sétimo sentido. Estou convicta de que, mesmo quando um tal estado advém de uma situação sem saída, em muito ou em tudo ele conta, propiciando "soluções de continuidade", voos no «meio divino», ou, dizendo-o de outro modo (tenho notado o obstáculo que representa para alguns o simples uso de uma linguagem conotada com a religião), no seio da poesia ou da beleza, que são um e o mesmo.