sábado, 26 de fevereiro de 2011

«rios e segredos»

A linguagem assenta, porém, em generalizações e não há como escapar-lhe senão na consciência disto mesmo e da necessidade que assim seja, sobretudo na interacção a nível do "funcional". 
Num noutro nível, porém, o "todo" (no sentido holístico de wholeness) toma o lugar do geral, a realidade sobrepõe-se à abstracção, e, à sua luz, o único fulgura. 
Assim, é no poema que acontece o sentido, inverbalizável de outra forma, para que concorrem a palavra, a imagem, o símbolo, o mito, que esse mesmo sentido singulariza e, deste modo, vivifica e anima. Estou a pensar em «Escutar» (e nos poemas anteriores) no que, inevitavelmente - e não sei se evitá-lo seria desejável -, é de mim chamado à luz, «rios e segredos» que mesmo para mim são mistério e que não me pertence desvelar senão no que os traz aqui. E o que os pode trazer aqui senão a «Compreensão»  (ao conceito de RM junto o que me faz escrevê-la com maiúscula) que  tudo «compreende» e se manifesta no ponto em que, tocando-a, se tocam o eu e o tu que o discurso envolve e (re)cria? 
Tudo o que poderia dizer seria sempre relativo ao efeito dessa manifestação inapreensível (no sentido etimológico do termo): a transformação no presente, numa concepção de tempo em que o que vem «inventa» o que foi, e, não sendo ainda, o por vir é já.