sábado, 19 de fevereiro de 2011

«Mnemosyne» (e imagens que «Vento» suscitou)

«Mnemosyne» surge quando ia tomar o texto guardado como rascunho para o continuar ou desistir dele (como tantas vezes acontece). O poema, belíssimo, parecia-me vir ao encontro do que dizia na mensagem iniciada.
Suscitada pelo poema «Vento», era  «a memória que desfolhava() entre dedos». Memória da tília na canção que a minha avó cantava: «inclinada ao vale profundo / deitava a tília a folhagem / e de sob a verde tília fazia queixas a aragem». Ainda retenho fragmentos - como este do início e outros,  dispersos, como «pôs flores no penteado /e foi para debaixo da tília /esperar o seu Bem-Amado».
Era uma balada, com uma narrativa quase decalcada sobre a da «Bela Infanta» (um outro texto entre os que me encantaram a infância).

O que tinha escrito a este respeito levou-me a tomar uma fotografia antiga da minha avó, tão jovem então  (bonita nunca deixou de o ser, talvez para me mostrar que há uma beleza em cada estação da vida). Assim visualizo a figura feminina da canção. Não me é difícil ver-lhe flores no cabelo. E colori-la . E animá-la. E sentir nela esse fogo nunca extinto do amor que se não consome na chama:   «um alvoroço acendia-se no peito / que trémulo / se abandonava ao vento ...»   E escuto, num fundo de folhagem em que reverberam ecos distantes da balada na sua tão linda voz soprano, uma outra, mais bela se mais bela pode ser (barítono, tenor, que importa se é a do Bem-Amado?) dirigindo-se-lhe, tal a vê,  na sua eterna frescura, esperando ainda sob a tília. Esta, tão velha agora.

É a velha tília de Poiares que vejo (aonde me leva este meu exercício?). Quantas vezes me sentei à sua sombra a evocar a balada e a escutar na aragem sons perdidos em que me parecia ouvir aquela que a cantava, naquele tempo em que me encantava o mundo.

Fui buscá-la à mensagem iniciada para a deixar aqui.