segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

«Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus»

Sempre que o «Sermão das Bem-aventuranças» é leitura central na celebração da Eucaristia, uma (e tem sido a mesma - Mat 5, 6 - , se bem que interpelando-me de modos diferentes) assume uma força muito especial ficando comigo longo tempo.  Ontem,  logo ao escutar, mais uma vez, as palavras inesgotáveis na sua poeticidade e  infinita beleza, na versão que nos chega de S. Mateus (Mat 5, 3-12), senti que essa "força" singularizava agora a do versículo 8  - «Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus». Significativamente, na homilia, o padre também a singularizou no facto de ter sido a única, de entre as nove, que passou em branco.  Devo dizer que senti uma espécie de "descompressão" por ele a não ter "explicado", como fez sucessivamente a cada uma das outras. (contrapondo-as ao que "o mundo" prega). A espécie de estremecimento que me pareceu ter acompanhado o breve silêncio que fez depois de a ler e passar à seguinte foi a mais eloquente "glosa" que lhe poderia ter sido suscitada.

Como poderia eu ousar dizer, então, alguma coisa? Fico pela reafirmação do que tenho vindo a tentar pensar (recorrendo à escrita no esforço de apreender o inapreensível) sobre o símbolo, a que o mítico acresce da intensa ressonância do arquétipo. Nesta linha de reflexão é talvez o mais poderoso de todos os símbolos aquele que, infinitamente, a literalidade desta bem-aventurança contempla (como a gota de água em que os místicos vêem contido todo o mar).