sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

«Die Sehnsucht du / und was sie stillt»

Tenho ligado o fascínio que têm em mim certos cânticos (ou canções como a Lied de Schubert que coloquei no meu último post,  «Du bist die Ruh») ao poder de propiciarem a emergência daquele terceiro interveniente na relação (que ele mesmo cria) em que música e palavras, por sua via, se indissociam na criação de algo de belo e de feliz. «Ter oração», como já o tenho muitas vezes dito aqui, é a expressão quase ingénua de Teresa d' Ávila para o que  diria ser a «ligação», em diferentes graus e em diferentes níveis de consciência (digamos assim), a um «Tu», que, explicitado ou não na forma pronominal da segunda pessoa, assume presença, inclusivamente no mais profundo âmago do que possa ser tomado como Seu afastamento ou ausência. 

Não se confinando ao plano do «ser», não pode por isso mesmo definir-se. Vê-Lo nesse "terceiro" que cria a ligação de que irrompe e que sustenta na eternidade do instante («the moment in the rosegarden»), referi-Lo como «Cristo» (como S. Paulo o faz, nomeadamente ao dizer que «nada nos pode separar do Seu amor»), ou, no plano mais concreto e ingénuo do símbolo, invocá-Lo como o Amigo, o Bem-Amado, ou simplesmente «Tu» («Die Sehnsucht du / und was sie stillt») apenas indiciam diferentes modos de olhar - e porventura viver - a ligação implicada em «ter oração».