terça-feira, 28 de junho de 2011

continuando

Da aceitação de que o "sentido" do texto - muito em especial, do poema - seria aquele que o leitor lhe descobrisse no acto de o ler, depressa se passou à admissão de que esse "sentido" se delinearia como resposta às «solicitações» que o leitor fizesse ao texto ou o texto ao leitor, para finalmente se chegar à posição de acordo com a qual o sentido não está feito, antes emerge,  irrompe ou sobrevém, independentemente dos pensamentos (ou intenções) de quem tenha escrito o texto, tornado autónomo.

A ideia quer da emergência ou irrupção de sentido nas palavras, quer da sua sobrevinda (que leva ao "terceiro" actuante na tríade que através dele se constitui), não exclui, porém, a relação, em diferentes modos de ser, que se instaura entre quem fala/escreve e quem escuta/lê, ainda que nas formas, criadas pelo texto, de "sujeito da enunciação" e  seu enunciatário (pessoal ou impessoal, singularizado ou pluralizado,  directo ou oblíquo).
Se a "autotelicidade" do texto faz desaparecer, com o anjo-mensageiro, também o eu e o tu reais e tudo assume uma existência puramente virtual no texto e pelo texto, prefiro acreditar nos anjos e reconhecê-los como intervenientes, ao mesmo título que o eu e o tu, na ligação trina para que concorrem com o seu contributo próprio.