a ligação com o "outro"
Tento ver para além dos atritos que surgem sempre como se fossem inerentes às ligações que estabeleço, com o assentimento do "outro", num mundo em que estou, mas de que não sou. Tento ver o que esta situação representa em termos de libertação de uma auto-imagem cuja defesa (e nesta radica muito do atrito) constitui um obstáculo sério no desejado avanço para uma maior claridade.
Se não ligar as «cenas» entre si através dos nexos que lhes descubro neste esforço de "ver", se viver cada uma delas em separado, terei tendência em privilegiar aquelas em que nem sequer há lugar à defesa da minha auto-imagem (antes pelo contrário, se a sinto «incensada»), quando são precisamente as que maior perigo representam para o «caminho» a abrir, na orientação para que me sinto atraída como limalha de ferro para um íman. É indiscutível que é ao serviço desta força que estão os atritos que advém de lesões infligidas à auto-imagem do eu superficial, vão e egoísta. Ultrapassar esses atritos é deixar vencer o eu profundo, essencial, aberto ao "outro" e pronto a acolhê-lo como ele é.
Que faço eu? Não hesito em queimar incenso sobre o altar do "outro" quando a tal me move o impulso de o elevar aos seus próprios olhos, quando se me manifesta nele o élan que, por si só, o eleva aos meus. Estarei eu a alimentar com isso a sua vaidade? Ou estarei a reforçar positivamente o seu avanço oferecendo-lhe um espelho que puramente reflicta o seu eu profundo? Até que ponto considerará puro esse espelho? Até que ponto não descortinará intenções egoístas por detrás da minha oferta? Que procuro eu no desejo, que não deixa de lá estar também, de o comprazer, de lhe ser grata? A oferta será tanto mais pura quanto a ligação advier do encontro dos arcos da ponte que um e outro lance para o Outro, sem excluir - ou mesmo contemplando - a possibilidade de uma intercessão, algures, a meio caminho para o outro lado. Haverá comprazimento mútuo, porém, por acréscimo, não como finalidade em si mesmo, não como objectivo a alcançar como tal.
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