a narrativa, o desenho, o poema
A perspectiva da vida como caminho de conhecimento, mas também de aperfeiçoamento do "eu" que caminha parece-me ser o que fundamentalmente lhe assegura unidade face à precariedade da que lhe confere o protagonista caminhante, confrontando-se, a cada encontro, com uma sempre outra imagem de si mesmo, sem que de máscaras (personae) verdadeiramente pense tratar-se, nem de (dis)simulação. Falo, obviamente dos encontros relevantes em termos da caminhada. Haverá um "eu" em relação ao qual possa olhar os outros como não autênticos? Não o serão todos um pouco, cada um a seu modo? Será, pois, o caminho que, envolvendo o caminhante, confere uma "unidade temática" às diferentes linhas isotópicas que percorrem a narrativa que houver de fazer da viagem. Um caminho que não está aberto, antes se vai abrindo numa direcção que se manifesta numa força de atracção que torna sensíveis tanto as convergências como os desvios.
O reconhecimento de "linhas isotópicas" a ligar os flashes de que é feita a memória fá-los funcionar como símbolos no plano da narrativa que assim se constrói, conferindo-lhe uma complexidade à semelhança da da realidade de que se faz imagem. Se assim se tornam significativos dentro da história narrada (sempre precária, na insustentabilidade das configurações), também concorrem para que, do todo desta, emerja um sentido (ou vários) para o momento que corre.
A narrativa torna-se, assim, factor interveniente no processo em curso, quando este processo é visto não como via a seguir, mas como via a abrir. Se a narrativa se pode substanciar na escrita, os acontecimentos-símbolos que concatena podem concretizar-se em imagens, configurações, desenhos, que, arrancados ao tempo, fazem sentido no agora.
Se com a narrativa o poema comunga a palavra, só o poema com esta faz surgir o próprio acontecimento-símbolo na pureza do mundo que instaura (a pureza do «mundo não interpretado»). Diria ser o poema a materialização verbal do momento em que um especial dom da graça toca a vida-via do caminhante e nele faz assomar o Poeta.
Se com a narrativa o poema comunga a palavra, só o poema com esta faz surgir o próprio acontecimento-símbolo na pureza do mundo que instaura (a pureza do «mundo não interpretado»). Diria ser o poema a materialização verbal do momento em que um especial dom da graça toca a vida-via do caminhante e nele faz assomar o Poeta.
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