sexta-feira, 8 de julho de 2011

No me mueve, mi Dios (Soneto a Cristo crucificado)



Retomei a oração da manhã e, se me parece não conseguir "ligação", o certo é que, subtilíssima, ela acontece, tão subtil que apenas penso que a pressinto. É por isso que continuo a tentar "ligar", na absoluta certeza de que Lhe é grato que O faça e Lhe fale, por horas a fio que seja - e quem me dera que o fosse; na verdade, nesta aridez e por incapacidade minha, apenas passam uns escassos minutos. Um outro tempo houve em que era mesmo por horas a fio que estas coisas me tomavam, tempos em que,  nada me faltando, tal não podia ser entendido - sobretudo por mim mesma - como uma forma de compensação, antes como o coroar, o cumular de um sentido de plenitude, física, psíquica, espiritual, nunca antes experienciado e agora tão distante.
Este soneto (considerado desconhecido o seu autor, se bem que atribuído também seja a Teresa d' Ávila, seja a João da Cruz), de que tantas vezes fiz oração, reacende, se o "rezar", uma chama que julgava extinta:
 
No me mueve, mi Dios, para quererte
el cielo que me tienes prometido,
ni me mueve el infierno tan temido
para dejar por eso de ofenderte.


Tú me mueves, Señor, muéveme el verte
clavado en una cruz y escarnecido,
muéveme ver tu cuerpo tan herido,
muévenme tus afrentas y tu muerte.


Muéveme, en fin, tu amor, y en tal manera,
que aunque no hubiera cielo, yo te amara,
y aunque no hubiera infierno, te temiera.


No me tienes que dar porque te quiera,
pues aunque lo que espero no esperara,
lo mismo que te quiero te quisiera.