No me mueve, mi Dios (Soneto a Cristo crucificado)
Retomei a oração da manhã e, se me parece não conseguir "ligação", o certo é que, subtilíssima, ela acontece, tão subtil que apenas penso que a pressinto. É por isso que continuo a tentar "ligar", na absoluta certeza de que Lhe é grato que O faça e Lhe fale, por horas a fio que seja - e quem me dera que o fosse; na verdade, nesta aridez e por incapacidade minha, apenas passam uns escassos minutos. Um outro tempo houve em que era mesmo por horas a fio que estas coisas me tomavam, tempos em que, nada me faltando, tal não podia ser entendido - sobretudo por mim mesma - como uma forma de compensação, antes como o coroar, o cumular de um sentido de plenitude, física, psíquica, espiritual, nunca antes experienciado e agora tão distante.
Este soneto (considerado desconhecido o seu autor, se bem que atribuído também seja a Teresa d' Ávila, seja a João da Cruz), de que tantas vezes fiz oração, reacende, se o "rezar", uma chama que julgava extinta:
el cielo que me tienes prometido,
ni me mueve el infierno tan temido
para dejar por eso de ofenderte.
Tú me mueves, Señor, muéveme el verte
clavado en una cruz y escarnecido,
muéveme ver tu cuerpo tan herido,
muévenme tus afrentas y tu muerte.
Muéveme, en fin, tu amor, y en tal manera,
que aunque no hubiera cielo, yo te amara,
y aunque no hubiera infierno, te temiera.
No me tienes que dar porque te quiera,
pues aunque lo que espero no esperara,
lo mismo que te quiero te quisiera.
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