quando a rosa e o fogo são um
Se na concisão e no rigor formal se lhe compara, o haikai contrasta vivamente com o epigrama alexandrino pela clareza e limpidez da imagem que o dizer verdadeiramente "dá a ver" (um "ver" que está por todos os sentidos). Acentua alguns traços nas componentes semânticas da imagem gráfica que normalmente acompanha e a que deste modo se religa, alcançando aquela "objectividade" que o género preconiza, sem que esta seja «uma forma subtil de subjectividade» (como acontece na pretensa "objectividade"). Ou seja, a dualidade sujeito-objecto desfaz-se na tríade em que da ligação indissociável do representacional e do interpessoal irrompe aquilo mesmo que os liga e que no texto se manifesta.
Em alguns casos chamar-lhe-ia "Espírito", numa analogia entre a trindade asim gerada e a trindade divina (e humana), na certeza de que, sem se contradizer, a cada um falará de um modo diferente, consoante o seu próprio caminho. Só, porém, a quem «tiver ouvidos para ouvir». Diria que, não os tendo, não acontecerá esta dinâmica trinitária, tudo se reduzindo àquela em que interagem as dimensões semânticas no mero funcionamento da linguagem.
Falo do ponto de vista do leitor, na certeza de que o autor o é também: um leitor inseparável do autor enquanto activamente interventivo no acto instaurador da realidade que é o poema. Só porém, pela irrupção do Espírito como terceiro interveniente no processo da sua criação é que nele o poético e o sagrado - a rosa e o fogo - serão um.
Tentarei escrever, como modo de a pensar a partir da leitura de um poema deste género, a experiência desta união.
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