«es (das Leben) dichtet uns»
Não traduzi os epigramas de Angelus Silesius que coloquei no último post na ideia de os retomar, na sequência de uma escrita que tende a tornar-se mais da ordem do testemunho do que da reflexão.
Isto prende-se com a minha insistência na singularidade de cada eu e do (seu) mundo - coloco o determinante possessivo entre parêntesis porquanto o mundo dito "real", por se considerar comum a todos os que nele estão, não deixa de fazer parte do mundo singular e único de cada um. A linguagem está, naturalmente, implicada na sua construção conjunta (será, nesta perspectiva, interessante ler a narrativa da cura do cego de Betsaida, em Mc 8, 22-26).
Se antepuser ao que quer que diga a expressão "penso que" poderei dizer o que quiser sem contestação, pela simples razão de que, com esta forma verbal, enuncio um processo psíquico (cognitivo, neste caso), como tal não passível de valor de verdade. O mesmo se pode dizer de "vejo", "ouço", "sinto", etc.. Ou de "amo", "gosto", "detesto", etc., enunciações de processos psíquicos, respectivamente sensoriais e afectivos. Não podem ser postos em causa
Acontece que, âmbito que traga a esta ordem de processos (o complemento directo da gramática tradicional), logo enuncio e anuncio o mundo (ou algo no mundo) como representação minha, ou seja, será do meu mundo que estou a falar, um mundo que só quem o "sustenta" verdadeiramente o conhece.
Se disser «vejo um unicórnio na floresta que é também esta sala» ninguém mo pode negar. Na melhor das hipóteses , porém, (já que tanto o senso comum como a ciência estabelecem que, no "mundo real," uma sala não pode ser ao mesmo tempo uma floresta, nem tão pouco existem unicórnios), será dado o salto do congruente para o metafórico, do mundo real para o mundo ficcional, da vida para a criação literária/poética.
E é, naturalmente, da criação poética que quero falar.
Com este salto de um mundo para outro, dentro do mesmo, como é óbvio - ficam na sombra ou na margem o processo e o medium , enquanto, no centro iluminado brilha o âmbito: o mundo do texto, de que se tem ocupado a análise literária. Não digo que não seja fecundíssimo o terreno, longo tendo sido o tempo em que o trabalhei também. Só que anseio agora ir mais além, além da linguagem, porventura além da «Vida», da qual - como escreve Lou Andreas Salomé em epígrafe à sua narrativa autobiográfica Lebensrückblick - somos a obra. Transcrevo:
«Menschenleben – ach! Leben überhaupt – ist Dichtung. Uns selber unbewußt leben wir es, Tag um Tag wie Stück um Stück, – in seiner unantastbaren Ganzheit aber lebt es, dichtet es uns.(...)»
Isto prende-se com a minha insistência na singularidade de cada eu e do (seu) mundo - coloco o determinante possessivo entre parêntesis porquanto o mundo dito "real", por se considerar comum a todos os que nele estão, não deixa de fazer parte do mundo singular e único de cada um. A linguagem está, naturalmente, implicada na sua construção conjunta (será, nesta perspectiva, interessante ler a narrativa da cura do cego de Betsaida, em Mc 8, 22-26).
Se antepuser ao que quer que diga a expressão "penso que" poderei dizer o que quiser sem contestação, pela simples razão de que, com esta forma verbal, enuncio um processo psíquico (cognitivo, neste caso), como tal não passível de valor de verdade. O mesmo se pode dizer de "vejo", "ouço", "sinto", etc.. Ou de "amo", "gosto", "detesto", etc., enunciações de processos psíquicos, respectivamente sensoriais e afectivos. Não podem ser postos em causa
Acontece que, âmbito que traga a esta ordem de processos (o complemento directo da gramática tradicional), logo enuncio e anuncio o mundo (ou algo no mundo) como representação minha, ou seja, será do meu mundo que estou a falar, um mundo que só quem o "sustenta" verdadeiramente o conhece.
Se disser «vejo um unicórnio na floresta que é também esta sala» ninguém mo pode negar. Na melhor das hipóteses , porém, (já que tanto o senso comum como a ciência estabelecem que, no "mundo real," uma sala não pode ser ao mesmo tempo uma floresta, nem tão pouco existem unicórnios), será dado o salto do congruente para o metafórico, do mundo real para o mundo ficcional, da vida para a criação literária/poética.
E é, naturalmente, da criação poética que quero falar.
Com este salto de um mundo para outro, dentro do mesmo, como é óbvio - ficam na sombra ou na margem o processo e o medium , enquanto, no centro iluminado brilha o âmbito: o mundo do texto, de que se tem ocupado a análise literária. Não digo que não seja fecundíssimo o terreno, longo tendo sido o tempo em que o trabalhei também. Só que anseio agora ir mais além, além da linguagem, porventura além da «Vida», da qual - como escreve Lou Andreas Salomé em epígrafe à sua narrativa autobiográfica Lebensrückblick - somos a obra. Transcrevo:
«Menschenleben – ach! Leben überhaupt – ist Dichtung. Uns selber unbewußt leben wir es, Tag um Tag wie Stück um Stück, – in seiner unantastbaren Ganzheit aber lebt es, dichtet es uns.(...)»
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