sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Die Welt ist hier

Iniciei já vários posts sem conseguir desenvolver o tema de reflexão que me propunha, como se aquela outra mão que com a minha escreve recusasse colaborar num modo de discurso de que, por força de uma disciplina de anos, ainda me não libertei. A minha dificuldade advém, não de assumir plenamente o discurso de primeira pessoa, mas de assumir uma singularidade que não só me faz única, como único faz um mundo que não só é o que conheço, como só de mim é conhecido. 
Do facto de cada um poder dizer exactamente isto  não posso tirar a ilação nem de que há vários mundos, nem de que há um só. A linguagem, melhor será dizer a "gramática" (ou, mais rigorosamente a léxico-gramática) está, naturalmente, envolvida na criação de uma base comum de um mundo partilhável. Este parece, porém, e cada vez mais,  reduzir-se ao estritamente funcional em que tant bien que mal assenta a vida quotidiana. Isto manifestamente não basta para sustentar a ilusão de um mesmo mundo comum a todos. Apenas sustenta um "suporte" comum, para o qual cada um contribui com a sua quota parte de actos, palavras, pensamentos (e desejos) e omissões (não fazer nada é sempre fazer alguma coisa).
 O mundo que me rodeia configuram-mo os sentidos, a mente, o coração, e todo o meu ser. Um mundo em que o "Tu" pre-existe ao "eu", e persiste para além dele, sendo o que nunca posso perder. Desta tomada de consciência (que, apesar de tão linear, foi para mim uma fulguração, que «lançou fora todo o temor) decorre a de que quanto mais vazio fizer em mim, quanto mais me esvaziar do mundo e de mim mesma, mais intensamente Ele brilha na escuridão desse vazio. 
Assoma-me à mente o verso de Eliot «And the darkness shall be the light». Trata-se, para mais, de um daqueles "ecos" que se cruzam, misturam, reverberam em Quatro Quartetos. Na palavra e por via dela, há um tocarem-se, porventura interseccionarem-se o meu mundo e o do outro . «Die Welt ist fort. Ich muss dich tragen», um verso de Celan que Derrida glosa em Béliers. Não será qualquer outro, este "tu" de «dich tragen». Que alegria poder dizer «Die Welt ist da / hier», e mais do que «ich muss»,  «ich möchte», «ich will».
Mas esta é a segunda questão e é ainda à primeira que queria atender. Continuarei num próximo post.