ainda "leben" e "dichten": o autor
Na citação que coloquei no final do meu último post, a vida humana – toda a vida de um modo geral – (Menschenleben – ach! Leben überhaupt) é relacionada identificativamente com a criação poética: ist Dichtung. Ao mesmo tempo, é-lhe reconhecido o duplo papel de âmbito e de actor do processo que enuncia (leben, viver). Ou seja, vivemos a vida, mas a vida vive-nos / cria-nos. Traduzo assim dichten, um verbo cujo tema - dicht - é a raiz de derivações como Dichtung, poesia, Dichter, poeta, Gedicht, poema). Traduzo: «Inconscientemente (à letra: de nós mesmos não sabido) vivemo-la, dia a dia como se peça a peça (pedaço a pedaço), – na sua integralidade (inglês wholeness) intangível/inviolável, porém, ela vive-nos, cria-nos.
Com respeito à vida, Lou não separa criação e criador, a obra e quem a cria ( dichten ) em virtude dessa sua integralidade intangível.
Na verdade, cada recapitulação que faça da minha própria vida de um modo geral ou desta ou daquela peça /pedaço em particular constitui uma narrativa em que eu própria surjo como interveniente - narrador e protagonista - porém não autor. Ao autor Lou chama vida. Não a vida em abstracto, mas a vida em cada vivente, a vida em mim. Posso chamar-lhe também via ou caminho.
o caminho que me faz o que vou sendo e vou sendo o caminho que faço. Volto ao início no reconhecimento da via no duplo papel de actor e âmbito do processo que enuncia.
O que faz poético um texto é ele ser nisto à imagem da vida - da vida em que surge o poema. Vejo o processo de criação poética à semelhança da trindade divina: o poema nasce da relação que ele mesmo cria dela irrompendo e nela intervindo (como linguagem?) entre o autor do texto e (retomando as palavras de Lou com que iniciei) a vida que vive e que o vive / cria ("criar" como tradução do termo dichten), tenha ou não consciência disso.
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