quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ainda "leben" e "dichten": o autor

Na citação que coloquei no final do meu último post, a vida humana toda a vida de um modo geral  (Menschenleben – ach! Leben überhaupt) é relacionada identificativamente com a criação poética: ist Dichtung.  Ao mesmo tempo, é-lhe reconhecido o duplo papel de âmbito e de actor do processo que enuncia (leben, viver). Ou seja, vivemos a vida, mas a vida vive-nos / cria-nos. Traduzo assim  dichten, um verbo cujo tema - dicht - é a raiz de derivações como Dichtung, poesia, Dichter, poeta, Gedicht, poema). Traduzo: «Inconscientemente (à letra: de nós mesmos não sabido) vivemo-la, dia a dia como se peça a peça (pedaço a pedaço), na sua integralidade (inglês wholeness) intangível/inviolável, porém, ela vive-nos, cria-nos.
Com respeito à vida, Lou não separa criação e criador, a obra e quem a cria ( dichten ) em virtude dessa sua integralidade intangível. 

Na verdade, cada recapitulação que faça da  minha própria vida de um modo geral ou desta ou daquela peça /pedaço em particular  constitui uma narrativa em que eu própria surjo como interveniente - narrador e protagonista - porém não autor.  Ao autor Lou chama vida. Não a vida em  abstracto, mas a vida em cada vivente, a vida em mim.  Posso chamar-lhe também via ou caminho. 
o caminho que me faz o que vou sendo e vou sendo o caminho que faço. Volto ao início no reconhecimento da via no duplo papel de actor e âmbito do processo que enuncia. 

O que faz poético um texto é ele ser nisto à imagem da vida - da vida em que surge o poema. Vejo o processo de criação poética à semelhança da trindade divina:  o poema nasce da relação que ele mesmo cria dela irrompendo e nela intervindo (como linguagem?) entre o autor do texto e (retomando as palavras de Lou com que iniciei) a vida que vive e que o vive / cria ("criar" como tradução do termo  dichten), tenha ou não consciência disso.