Vergangenheit, die aus Gegenwart sich bildet
Recapitular, reitero-o, é sempre olhar à luz presente o caminho percorrido e ver o desenho que definem os pontos que ilumina, pontos antes «na margem», na sombra, na penumbra, ou no ponto que a anterior luz obscurecia: Vergangenheit, die aus Gegenwart sich bildet, diria Rilke.
O que me seduziu desde o primeiro momento no pensamento de Derrida foi o de imediatamente transformar a perspectiva a que passei a olhar todas as coisas, incluindo a minha própria vida. Nunca entendi, porém, que fosse de considerar mais importante o que a luz encobre do que o que revela. Em cada momento o importante é o que revela, importante na medida em que contribui para a emergência de um sentido no agora, que é já a luz que o faz brilhar e sobressair. Mas mais importante ainda é ter, a todo o momento, consciência de que nenhum ponto brilha com luz própria: se brilha é porque reflecte a luz, sendo esta que obscurece a que a precede, dissipa as sombras anteriores, integra o que antes era margem; ao mesmo tempo, porém, retraça uma nova margem, redispõe as sombras e do mesmo modo será obscurecida pela luz por vir. Só a Luz divina, tudo iluminando de dentro e de fora, não dá lugar a sombras ou a margens e, estando em tudo, tudo revela no momento em que tudo oculta. Daqui decorre e aqui conduz a via, por isto mesmo, dita "mística".
Ando a ler o último número de Le Point (Janeiro-Fevereiro de 2012), Les grands mystiques. Ainda não tinha acabado de ler o anterior, Comprendre le Moyen Âge (Novembro-Dezembro de 2011). Temas que toda a vida me motivaram e a que dediquei, sob o disfarce da "Linguística" (ou não estivesse em tudo a linguagem), o "trabalho científico" que me impunha a profissão. Tive, assim, ocasião de aprofundar suficientemente estas questões, que o cristianismo que professo ilumina, para que nestes "depoimentos" de autores vários reconheça, explicitado de uma forma ao alcance de todos, o que, se não logrei perfeitamente discernir ("cerner") para o verbalizar sem circunlóquios, não deixei de vivamente sentir, como uma pré-instaurada certeza, para que possa falar desta experiência de leitura como de uma sua confirmação.
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