sexta-feira, 15 de maio de 2009

Abyssus abyssum invocat. Angelus Silesius pergunta-se qual o mais profundo, se o abismo do seu espírito, se o de Deus.
Não estará o perigo em que, à força de querer ver a luz (e, à luz dela, a rota), o espírito a crie a partir de si mesmo, seja presente, seja ausente? A noite e o deserto não serão (ainda que podendo como tal ser tomados) a substanciação desta ausência, mas a manifestação da luz incriada na forma da mais pura força de atracção. Que perigo imenso não representa toda a luz criada se o espírito se não orientar para além dela, para a "überlichtiges Licht" (a Luz do Além-da-luz) que se manifesta na mais profunda escuridão do que no espírito responde uma vez "tocado" ("wenn berührt einmal"). O que, orientado para um sentido acima a além de todo o sentido (Übersinnliches), responde e chama podê-lo-ia verbalizar como "übermenschlicher Mensch" (o humano do além-do-humano).
O essencial não está, o essencial sobrevém (a própria gramática decorre e sustenta-se nesta revelação).