Ao ler um poema, ainda que a minha leitura seja silenciosa, estou a dar voz (a minha, ainda que lhe possa dar diferentes e múltiplas modulações) não ao autor, mas ao Poeta enquanto "sujeito da enunciação". Deste modo o texto de novo se torna discurso e discurso vivo. É assim que "invento" (no sentido etimológico do termo) aquele que "fala" na voz que lhe dou. Falará, assim, "a várias vozes" como diz Derrida a fechar "Psyché, l'invention de l'autre", tantas quantas as vezes que o texto se tornar discurso e cada enunciado nova enunciação.
Enunciei de uma forma muito linear a questão que levantou a controvérsia em torno da (pretensa ou não) "morte do autor", com tudo o que possa ter de falacioso. Na verdade, por esta ordem de ideias, cada eu se tornará, no momento em que se expresse, sujeito da sua enunciação, diferente de si mesmo em silêncio. Por outras palavras, eu só sou eu enquanto não me expressar. Expressando-me, torno-me imediatamente outra de mim. E se o que digo ficar gravado ou escrito, até para mim mesma me torno outra no momento em que me ouço ou me leio.
É incontestável que teoricamente assim é, pelo menos desde que Derrida trouxe, com a célebre différance, a questão do "suplemento" e da impossibilidade de repetição do mesmo: não há repetição, mas iteração. O texto escaparia à lei da suplementaridade se tivesse existência fora do discurso, o que não acontece.
Tudo isto é verdade do ponto de vista teórico, mas, levado ao extremo, toca o teológico-místico : em termos muito simples, eu sou só eu mesma para Deus. Poderia então dar expressão ao meu mais profundo anseio e dizer ao eu a quem dou voz no poema (em mim fora de mim, portanto, seja no poema este "fora", seja nesse "não lugar" que é "não em mim"): quero conhecer-te como só Deus. É o princípio que se enuncia nas palavras "nada posso, porém Tu tudo podes em mim". Então reencontraríamos a tríade divina em que "apenas o puro amor subsiste, nessa indiferença tão diferenciada".
Enunciei de uma forma muito linear a questão que levantou a controvérsia em torno da (pretensa ou não) "morte do autor", com tudo o que possa ter de falacioso. Na verdade, por esta ordem de ideias, cada eu se tornará, no momento em que se expresse, sujeito da sua enunciação, diferente de si mesmo em silêncio. Por outras palavras, eu só sou eu enquanto não me expressar. Expressando-me, torno-me imediatamente outra de mim. E se o que digo ficar gravado ou escrito, até para mim mesma me torno outra no momento em que me ouço ou me leio.
É incontestável que teoricamente assim é, pelo menos desde que Derrida trouxe, com a célebre différance, a questão do "suplemento" e da impossibilidade de repetição do mesmo: não há repetição, mas iteração. O texto escaparia à lei da suplementaridade se tivesse existência fora do discurso, o que não acontece.
Tudo isto é verdade do ponto de vista teórico, mas, levado ao extremo, toca o teológico-místico : em termos muito simples, eu sou só eu mesma para Deus. Poderia então dar expressão ao meu mais profundo anseio e dizer ao eu a quem dou voz no poema (em mim fora de mim, portanto, seja no poema este "fora", seja nesse "não lugar" que é "não em mim"): quero conhecer-te como só Deus. É o princípio que se enuncia nas palavras "nada posso, porém Tu tudo podes em mim". Então reencontraríamos a tríade divina em que "apenas o puro amor subsiste, nessa indiferença tão diferenciada".
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