sábado, 16 de maio de 2009

"in eine Wüste ziehen"

Oriento o meu desejo para além dos sentidos que irrompem no acto de ler estes poemas. Oriento-o para o que além e acima destes sentidos, o além-sentido de todo o sentido (übersinnliches Sinn), sobrevindo, os suspende. É essência da verdadeira poesia isto que sobrevém. Mas o que é "isto"?
"É na luz que cresce a escuridão, é no som que cresce o silêncio. É no oásis que se eleva o deserto", leio. Escuridão, silêncio e deserto ardente, esta suspensão de todos os sentidos e, com eles, de todo o saber. Só fica, cego e surdo, o puro desejo que, como a sede de infinito e de eternidade, de si mesmo se sustenta e sacia sem nunca se saciar. O poético e o místico, enquanto palavra e silêncio, implicam-se mutuamente numa dinâmica que os faz, com o que sobrevém, um só. O verdadeiramente poético é místico e o verdadeiramente místico é poético e o que faz essa sua essência acontece e deixa rasto.
Este desejo não vem do eu exterior como não vem do eu interior, mas do que a um e a outro os transmuta em si. Falo do "terceiro excluído"?