terça-feira, 16 de junho de 2009

"Eu sou o Amor"

Quando Jesus diz “Eu sou o Caminho”, poderia do mesmo modo dizer "Eu sou o Amor". São esclarecedoras as palavras de S. Paulo (sobretudo depois de ler O tempo que resta) “não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim”. "Cristo em mim" é o caminho de amor que Jesus anuncia. E que é Cristo senão a ponte entre o humano e o divino (o que O faz Deus sem que deixe de ser Homem)?
"Vários são os caminhos e cada um só pode percorrer o seu próprio".
"Meu" é a forma de genitivo de "eu": o caminho de mim só eu o posso percorrer. O salmo 121 (com que comecei este blogue em 2005: "Levanto os olhos para a montanha") faz-me evocar o epigrama de Angelus Silesius (que o glosa, de que fiz o segundo post): "Sou uma montanha em Deus". O fascínio está em o caminho não estar traçado. Como poderia estar, se ninguém o percorreu nem pode percorrer a não ser eu mesma? Pode envolver subir a montanha, atravessar o deserto, cruzar o mar... Pode acontecer a maré subir... (queria tentar colocar aqui "La marée haute" cantada por Llase).

Encontro segurança em recapitular e retraçar o rasto do caminho percorrido unindo "marcos" que assinalam reinícios numa nova claridade (os "anéis crescentes" do poema de Rilke são-no por isso mesmo, por ser crescente o seu âmbito de compreensão). O que os torna reconhecíveis como tal é comportarem o que chamaria a marca da Sua mão. Primeiro apenas a Sua. "Que se te dá a ti os outros?", escutou Teresa d'Ávila no início. Não pode transbordar o lago que se não encheu... Depois... o encontro com "o outro" revela-se inerente à via. O outro, também a caminho.