sábado, 6 de junho de 2009

"um cântico novo"

A comunhão de referências funciona como uma outra linguagem que tomasse a linguagem comum como seu suporte, falando em e para além dela, singularmente a cada um. Mas esta outra linguagem não só não tira qualquer valor à primeira, a que é usada na expressão linguística, como, dependendo desta, a não dispensa.
Estou a colocar a escrita ao serviço do pensar e o que digo é, consequentemente, muito precário. Quando um poema me parece belíssimo (como é o caso destes poemas), essa beleza é na expressão linguística que imediatamente se manifesta, ao mesmo tempo que dela emana. Digo emana, não digo provém. Evoco o passo em que Traherne não sabe se a luz que vê a do próprio Sol ou se é a do Sol na alma ou se é ambas as coisas. Assim falaria desta beleza e do seu efeito em mim (mas o que é em mim? Como é redutora a ciência da linguagem quando a isto chama dimensão perlocutória...).
Sem esta reflexão o que pudesse dizer do poema (neste caso aquele de que me propus prender na escrita o efeito em mim) não passaria de um texto segundo, empobrecedor como todos os textos segundos, quando o poema apela a que diga (como ainda não sei) algo de semelhante ao que "um cântico novo" será para o salmista que o anseia encontrar.
Continuarei.
Se esta escrita é uma forma de oração contemplativa à maneira de Maria, a verdade é que não posso entregar-me à "melhor parte"(que escolho) durante todo o tempo que preciso e quero...