quinta-feira, 4 de junho de 2009

"como uma atmosfera que respirasse"

Escrever centrando-me nos "poemas do viandante" é um desejo que nasce do encontro não de dois, mas de três infinitos e, entre eles, do poema (gloso assim o subtítulo do livro Béliers de Derrida). Coloquei no outro blogue um passo das Centúrias em que Traherne, envolvendo referências da teologia mística cristã, situa a sua escrita no seio desta mesma trindade Não posso, pois, dizer que o encontro tenha lugar no poema, a não ser que esse "lugar" seja simultaneamente "um não lugar" e o poema uma e outra coisa e o que ligando-as as diferencia.
Tudo isto que digo, pobre produto da reflexão, se desfaz reduzido ao que é (a imagem que tenho é a de uma criança a soprar um dente-de-leão), no momento em que me envolve, "como uma atmosfera que respirasse", o "meio" que é cada um destes poemas. E quem mais comigo? O que sei, se alguma coisa posso dizer que sei, é que não sou só eu (de qualquer maneira, o que é "eu" é aqui recolocado em questão).
Escolho um daqueles que mais me tocam e mais fazem tocar as cordas do meu coração (falo assim glosando um dístico de Silesius). Pergunto-me (ou pergunta-me Ele) se o não farão todos eles e reconheço que sim. Outras razões advêm, então, para que escolha, para começar, o poema 19, "A casa onde te penso".