segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

o amor e o poema

Um tempo houve em que apenas abria a porta aos anjos que explicitamente enunciavam o desejo de d' Ele se aproximarem, pela sabedoria e pelo amor, desejo de que o meu se fazia eco; fechava-a , porém, àqueles que me pareciam perdidos e trancava-a aos que se me revelavam caídos. Um dia aconteceu que, obedecendo a uma vontade que não era a minha, a entreabri para acolher o que agora encaro como, afinal, todo o poema que a fixação de um sentido não destrói: liberto da mão que o cria, torna-se autónomo. Mas até que ponto se pode dizer que fala por si? Não corre ele o risco de falar por quem o acolhe, dizer o eco, sempre misturado com outros ecos, que encontra na casa que se lhe abre? Será tanto mais perdido quando assim se perde, ou, pelo contrário, tocado pela graça, encontra o caminho e aponta O que o orienta?
Isto leva-me de novo à triangularidade interpessoal envolvida no amor que, na hierarquia dos anjos, é representado pela ordem daqueles que por essa via tocam Deus.