terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fazei-me voltar

Voltar, não para trás, mas para o rumo de que nada, então, me parecia poder alguma vez desviar-me. Esse desvio anunciou-se-me no dia em que, orgulhosamente, proferi: "onde está a virtude se não há tentação?" O caminho parecia-me tão luminoso que o que quer que se interpusesse seria sempre visto como sombra logo aniquilada pela tão imensa luz . Luminoso se me afigurava o momento, quando chegasse, de descartar esta casca envolvente, demasiado densa para com ela poder prosseguir o caminho num "outro nível de vibração" (cito Rilke na carta ao tradutor polaco, sabendo que o termo vem da ciência/filosofia teosófica, desejando libertá-lo dessa carga nesta utilização).
Queixava-se uma amiga de a cena se andar a repetir com mais frequência agora que envelhecia, sempre invariavelmente a mesma. Diria que não se repete, que é sempre diferente, ainda que o ritual possa revestir a mesma forma. Ao regressar de uma dessas ocasiões de encontro, escuto a pergunta que me sobressaltou e ao mesmo tempo inundou daquela alegria que nos enche a alma mesmo que nos pese a tristeza: "a festa foi tão bonita como a da tia?" Para a pequena, que ainda não tinha cinco anos, fora a memória que lhe ficara dessa "cena" a que assistira pela primeira vez naquele Verão.
Uma festa, quando tudo acontece segundo a "ordem natural"...