quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

"pensar com"

Este espaço-tempo de tangência entre mundos que, se acontece com a escrita, também a faz acontecer, não é um outro mundo, distinto do chamado "mundo real", em que o "eu" se refugie como no "moinho abandonado" do poema de Gedeão. Por escrita entendo não apenas o que vou escrevendo, mas e sobretudo o que leio e que, indistinto do eu que o escreve, o faz aquele "em mim fora de mim" que Derrida envolve no "pensar com" . Tal será a essência do mais profundo pensar. Refiro-me, obviamente, ao pensamento verbal, maior do que a gramática (a léxico-gramática) que, se o molda, também por ele se deixa moldar (diria que a própria estrutura "pensar com", na sua (im)possibilidade, mostra esta sua natureza moldável).
"Pensar com" implica que "o outro" seja "em mim fora de mim" como o é no momento em que o escuto na voz que, silenciosamente, lhe dou. E sempre a mesma questão me vem assombrar: que mundo esta comporta senão o meu? Se é um caminho que não leva a lado nenhum pretender libertá-la de tal carga (do lado da leitura como do lado da escrita), também me interrogo se a algum lado me leva continuar a iludi-lo, focando os "significados interpessoais" (e textuais, é claro), no esforço inglório de, em face da sua impossível coincidência ou mesmo consentaneidade, colocar entre parêntesis os referentes ideacionais (se assim lhes posso chamar) envolvidos ou criados no processo.