O "tocar"
A questão do corpo passa a colocar-se de uma forma diferente ao entendermos que não somos uma dualidade, mas uma trindade. Estou há muito tempo para ir verificar que palavra grega utilizou S. Paulo para "corpo" e, sobretudo, se utilizou a mesma, quando escreve:"se há corpo natural, também o há espiritual". Fui finalmente confirmar (não importa muito a transposição para o nosso alfabeto) e a palavra é a mesma, "soma":"estin swma yucikon kai estin swma pneumatikon". Se o não fiz antes foi por estar a seguir uma linha de reflexão que, ao encontro desta concepção antropológica, reconhece o envolvimento dos sentidos, portanto do corpo, na relação com a transcendência, nomeadamente o "Tu", mas também o "tu" (que, na relação, se tornam mais do que "o Outro" ou "o outro").
O corpo e o tocar são o grande tema de Jean-Luc Nancy, que Derrida longamente desenvolve (em Le toucher) a partir da pergunta que coloca logo no início: "Quand nos yeux se touchent, fait-il jour ou fait-il nuit?" A evidência de que os olhos nunca se podem tocar leva a que, de imediato, se entenda "tocar" metaforicamente interpretando "olhos" como" olhar", o que retira à questão o seu mais profundo alcance, que todo o livro não chega a esgotar , nem mesmo quando, no fim, responde finalmente à pergunta, num daqueles passos em que o filosófico se rende ao poético:
"Quand des yeux se croisent intensément, infiniment, jusqu'à l'abyme, (...), quand rien au monde ne peut s'interposer, et pas même la lumière, pas même la source tierce d'un soleil, quand je vois le regard aimé qui me regarde au-delà de toute réflexivité, car je ne l'aime que pour autant qu'il me vient de l'autre, est-ce le jour ou la nuit? (...) Dans le baiser des yeux, il ne fait pas encore jour, il ne fait pas encore nuit. Point de nuit encore, et point de jour. Mais le jour et la nuit se promettent. (...) (Derrida, 2000: 343).
O poema de Jacqueline Risset que, num parêntesis, merece a Derrida a sua transcrição, fala deste mesmo "beijo" como um "tocar" literal: "mais qui //pourrait me toucher à présent/ sinon toi?"
O corpo e o tocar são o grande tema de Jean-Luc Nancy, que Derrida longamente desenvolve (em Le toucher) a partir da pergunta que coloca logo no início: "Quand nos yeux se touchent, fait-il jour ou fait-il nuit?" A evidência de que os olhos nunca se podem tocar leva a que, de imediato, se entenda "tocar" metaforicamente interpretando "olhos" como" olhar", o que retira à questão o seu mais profundo alcance, que todo o livro não chega a esgotar , nem mesmo quando, no fim, responde finalmente à pergunta, num daqueles passos em que o filosófico se rende ao poético:
"Quand des yeux se croisent intensément, infiniment, jusqu'à l'abyme, (...), quand rien au monde ne peut s'interposer, et pas même la lumière, pas même la source tierce d'un soleil, quand je vois le regard aimé qui me regarde au-delà de toute réflexivité, car je ne l'aime que pour autant qu'il me vient de l'autre, est-ce le jour ou la nuit? (...) Dans le baiser des yeux, il ne fait pas encore jour, il ne fait pas encore nuit. Point de nuit encore, et point de jour. Mais le jour et la nuit se promettent. (...) (Derrida, 2000: 343).
O poema de Jacqueline Risset que, num parêntesis, merece a Derrida a sua transcrição, fala deste mesmo "beijo" como um "tocar" literal: "mais qui //pourrait me toucher à présent/ sinon toi?"
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