quinta-feira, 27 de maio de 2010

"Faz-me chegar aos Teus rios..."

Se os poemas do Viandante me movem à pura contemplação de centelhas de um universo que me é dado pressentir tocando os limites do meu, os seus textos de reflexão filosófica em que a altura e a profundidade se espelham (diria feita na vertical, em contraste com a horizontalidade que reconheço no meu modo de pensar), move-me a desejar acompanhar os seus passos no regresso aos Seus rios, o que é já um avanço ao seu encontro (dos Seus rios, do Viandante, de Deus). Deixo reverberar em mim a toada do cântico: "Faz-me chegar aos Teus rios ..., faz-me beber, faz-me viver" .
É já longa caminhada pelo interior das margens, no esforço constante de me reorientar na direcção da sua corrente. O matagal, o solo pedregoso, os desníveis do terreno, tudo parece obstar, requerendo a atenção, a que aconteça a relação propícia à escrita que me traz aqui. A tal se deve este meu já tão continuado silêncio, que não desejo. Mas não será ele propício à escuta que esta escrita pressupõe e implica? Diria que sim, não fora a "distracção" pelo que me rodeia, a miríade de relações concorrentes em que tomo consciência de que o âmbito do meu ser é sempre definido em, por e com o outro, seja qual for a sua natureza. Direi que só por Ele, n' Ele e com Ele "serei" em verdade: não como me vejo ou me vêem, mas como Ele me vê.