segunda-feira, 21 de junho de 2010

Como a luz de uma estrela

Quando me comecei a "debruçar" sobre a relação entre poesia e misticismo, para passar do século XVII (onde longamente seguira as "vias" abertas por Traherne e por Angelus Silesius) a um tempo mais "actual", a minha escolha (circunscrita aos "clássicos") incidiu em Rilke (uma "paixão" da adolescência) e, contra o que poderia esperar, em T.S. Eliot. Digo isto porque na altura desconhecia Four Quartets. Li, então, este grande ciclo de poemas como a contraparte assumidamente cristã das Elegias de Duino e cheguei a pensar que seria o segundo livro que levaria para a ilha deserta se só pudesse escolher dois.
Hoje, porém, já hesitaria. Se houvesse de passar nessa ilha todo o tempo que me resta seria inteiramente um tempo de Maria, sem as mil tarefas de Marta em que ainda o ocupo agora e a que me não posso furtar. Para esse tempo de recolhimento, contemplação, adoração, reflexão e acção de graças (os vários momentos da oração "carismática"), escolheria o ciclo de poemas que mais próximo estivesse de mim, seja no tempo seja na "ligação" estabelecida (melhor seria dizer "acontecida") com o seu autor. Um poema ou texto em que ainda sentisse vivo, no calor e na vibração, o sopro/respiração que lhe deu origem. A vida que o anima diria ser o meio que foi da Sua vontade propiciar-me para a aproximação do "outro", tal sendo o caminho a percorrer ainda. Orientada para a "compreensão", a "ligação" é especial no sentido de "não trivial", como tal sustentando a tríade que a sustenta.
O tempo que medeia entre o agora e o mais recente poema do Viandante não representa um distanciamento neste processo, antes uma espera num universo suspenso na respiração de ummomento. Um pouco como a luz de uma estrela.