domingo, 1 de agosto de 2010

A «espada» e a «divisão»

Certos passos de Thomas Traherne fazem pensar em D.H. Lawrence, abstraindo, naturalmente, dos diferentes rumos que um e outro seguem. Ambos expressam o mesmo fascínio ante a vida e ambos se confrontam com os males que, nas respectivas épocas, a ameaçam enquanto tal (diria enquanto «vida e vida em abundância», de que Ele fala quando diz que veio para que a tenhamos). Ambos combatem esses males denunciando-os, expondo-os como tal. Travam o bom combate, trazem a «espada», a «divisão» que, Ele, que é a paz e nos dá a Sua paz, anunciou.

Sabemos bem a que interpretações perversas as Suas palavras (estas e outras) foram sujeitas e que ignóbeis e, por essência, anticrísticos fins foram alcançados «em Seu nome», utilizando-as. L. Dossey (2001), em Healing beyond the body: medicine and the infinite reach of the mind (um antídoto eficaz contra o veneno de I am a Strange Loop) imputa às religiões fazerem instrumento das «paixões implantadas nas camadas primordiais do cérebro triuno» que estão na base de um «impulso para a guerra» que lhe parece inabolível. Ao mesmo tempo que aponta a «excepção abençoada do Budismo», corrobora a interpretação perversa de Mat 10:34 (e Luc 12, 51), dela se servindo como "fundamentação", buscando-a onde não está.

Como é possível que não veja que a solução que propõe está precisamente nessa «espada» que Jesus veio trazer? Cito (na minha tradução) o passo em que explicita essa solução: «A resposta não é abolir a belicosidade (como se o pudéssemos fazer), mas encontrar modos menos violentos de sermos guerreiros - possivelmente tornando-nos guerreiros na defesa da terra e do ambiente, ou guerreiros contra [...] o sofrimento humano em todas as suas formas, por outras palavras, praticando a compaixão».