domingo, 25 de julho de 2010

contemplar um poema: um modo de orar

Tomei a escrita de T.T. (indissociável do homem de quem constitui o mais vivo testemunho) por ser relativamente menos complexa a relação interpessoal envolvida, mais facilmente esquematizável a partir da dinâmica básica do discurso. Se , nas Centúrias, há momentos em que T.T. se dirige a Deus em oração, o esquema só superficialmente se altera, pois que, se tira os olhos da destinatária (e do que, com ela, em mim o escuta hoje) para os voltar para Deus, o mesmo ela fará e, então, é n' Ele que os seus olhos «se tocam» . O texto , no entanto, apenas o pode propiciar. É no discurso que tudo tem (ou não) lugar. Se nada «acontecer» não se poderá falar em oração e a dinâmica interpessoal envolvida não passará da que é inerente a todo o acto discursivo enquanto tal.

Muitos e diferentes são os modos de oração e um dos mais propícios é para mim o da contemplação de um poema que de imediato me toque, me envolva, me eleve ou mesmo porventura me atraia à profundidade dos Seus abismos. A isto que um poema pode fazer em mim chamo beleza, um dado imediato da consciência. É em poemas desta natureza (e os do Viandante são-no incontestavelmente) que a questão que "persigo" reveste uma particular complexidade, agudizando-se a dificuldade no não ter outra alternativa de resolver o problema da minha interferência na "observação" senão contando com ela como parte interveniente, o que contradiz o desejo que o poema me suscita de me perder de mim no encontro com o outro /Outro. Ou não se tratasse sempre de "discurso" a forma de aceder ao poema, sobre o qual reitero o que disse relativamente à escrita de T.T.: indissociável do homem de quem constitui o mais vivo testemunho. Mas a pergunta põe-se sempre: quem é o eu? quem é o tu?
Era o tema da conferência que Derrida não chegou a dar...