Eutanásia de animais sãos praticada nos Canis Municipais
«Entre o animal e o anjo... ». Rilke anima com um novo sopro estas palavras ao olhar em pé de igualdade duas ordens de seres que a tradição ensinou a ver ligadas no ser humano, ao mesmo tempo que incutiu a ideia de um dualismo dificilmente erradicável (mesmo neste tempo assinalado como comportando o fim dos dualismos).
Revalida-se (muitas vezes dando-lhe uma primazia desmesurada) a parte "animal" constitutiva do ser que somos , mas continua-se a olhar os animais, mesmo os ditos "superiores", com a maior indiferença, se não com a maior brutalidade. O imperativo da "não antropomorfização" nem reforçou o respeito pelos direitos dos animais , nem pôs em foco o seu intrínseco mistério. Ao categorizá-los como "não humanos" relegou-os para a periferia, como de relativa ou de somenos importância. «Enquanto houver uma criança a morrer de fome em qualquer parte do mundo, não vou pensar nos cães».Não comentarei estas palavras, paradigmáticas de um sentir generalizado sustentado num crasso erro de lógica. Penso apenas que, quem assim fala é capaz de deixar comida no prato e de deitar no lixo as sobras da travessa, sem lhe ocorrer nessa altura um pensamento para as crianças que pelo mundo fora morrem de fome nesse mesmo instante, nem mesmo o de, em crianças, o ouvirem da mãe ou da avó quando não rapavam o prato.
O que mais me indigna é que me foram reportadas como proferidas, numa versão "personalizada" («enquanto houver em África uma criança que não tenha um lápis»), a propósito da chacina, em 2007-2008) dos «cães do Santuário» por alguém que, se não temesse o ferrete de "fundamentalista", teria "fundamentado" a atitude (e quem sabe se a ordem ou a conivência) com o infeliz passo bíblico que veda aos cães a entrada na «cidade santa». Nenhum, de facto, entrou no Santuário, nessa altura, mas também nenhum ficou à porta. Apenas se sabe que não foram mortos com uma injecção letal na veia, nem mesmo no coração.
E isto leva-me à eutanásia de animais sãos perpetrada nos Canis Municipais deste país (e de outros também "civilizados"). Dizer que o que se verificou em Fátima foi muito pior não retira gravidade ao que se passa aqui mais perto, neste Auschwitz canino, sendo o que me leva a escrever hoje um post deste teor.
Tempo chegará em que (não falando da crueldade sádica de que tantos são vítimas) também a eutanásia de animais sãos, inclusive crias de poucos meses, com que tantos concordam como "mal necessário", horrorizará a humanidade. Mesmo hoje, quem não verá com horror uma semelhança entre estas duas imagens (a primeira recolhi-a da net; a segunda é uma fotografia actual tirada por quem viu in loco os cadáveres lançados ao monte - suspeita-se que alguns possam ter sido para lá atirados ainda vivos - dos cães eutanasiados, crias e adultos, a maior parte bem alimentados, tal como foram capturados na rua ou entregues pelos donos para doação ou abate):
Revalida-se (muitas vezes dando-lhe uma primazia desmesurada) a parte "animal" constitutiva do ser que somos , mas continua-se a olhar os animais, mesmo os ditos "superiores", com a maior indiferença, se não com a maior brutalidade. O imperativo da "não antropomorfização" nem reforçou o respeito pelos direitos dos animais , nem pôs em foco o seu intrínseco mistério. Ao categorizá-los como "não humanos" relegou-os para a periferia, como de relativa ou de somenos importância. «Enquanto houver uma criança a morrer de fome em qualquer parte do mundo, não vou pensar nos cães».Não comentarei estas palavras, paradigmáticas de um sentir generalizado sustentado num crasso erro de lógica. Penso apenas que, quem assim fala é capaz de deixar comida no prato e de deitar no lixo as sobras da travessa, sem lhe ocorrer nessa altura um pensamento para as crianças que pelo mundo fora morrem de fome nesse mesmo instante, nem mesmo o de, em crianças, o ouvirem da mãe ou da avó quando não rapavam o prato.
O que mais me indigna é que me foram reportadas como proferidas, numa versão "personalizada" («enquanto houver em África uma criança que não tenha um lápis»), a propósito da chacina, em 2007-2008) dos «cães do Santuário» por alguém que, se não temesse o ferrete de "fundamentalista", teria "fundamentado" a atitude (e quem sabe se a ordem ou a conivência) com o infeliz passo bíblico que veda aos cães a entrada na «cidade santa». Nenhum, de facto, entrou no Santuário, nessa altura, mas também nenhum ficou à porta. Apenas se sabe que não foram mortos com uma injecção letal na veia, nem mesmo no coração.
E isto leva-me à eutanásia de animais sãos perpetrada nos Canis Municipais deste país (e de outros também "civilizados"). Dizer que o que se verificou em Fátima foi muito pior não retira gravidade ao que se passa aqui mais perto, neste Auschwitz canino, sendo o que me leva a escrever hoje um post deste teor.
Tempo chegará em que (não falando da crueldade sádica de que tantos são vítimas) também a eutanásia de animais sãos, inclusive crias de poucos meses, com que tantos concordam como "mal necessário", horrorizará a humanidade. Mesmo hoje, quem não verá com horror uma semelhança entre estas duas imagens (a primeira recolhi-a da net; a segunda é uma fotografia actual tirada por quem viu in loco os cadáveres lançados ao monte - suspeita-se que alguns possam ter sido para lá atirados ainda vivos - dos cães eutanasiados, crias e adultos, a maior parte bem alimentados, tal como foram capturados na rua ou entregues pelos donos para doação ou abate):
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