quarta-feira, 7 de julho de 2010

a trindade intrínseca ao poema

Como se a dificuldade do tema de reflexão não bastasse, as mais comezinhas tarefas quotidianas vêm-me tomar o tempo, a atenção e o recolhimento imprescindíveis para o esforço de pensar algo que não é, por natureza, confinável aos limites que o próprio acto de pensar instaura ("cerner" é um termo muito usado por Derrida para que não encontro correspondência satisfatória). Tal é o caso da "unidade trina" a que tenho invariavelmente chegado, na consciência de que, se só à contemplação se "abre" o seu mistério, nem por isso o pensamento desiste de a pensar.

Se em todo o poema, explícita ou implicitamente, estão envolvidos um eu e um tu numa relação que os instaura em existência, desta mesma relação emerge um terceiro que a origina. Tal é uma forma de enunciar o modo de ser do poema enquanto acontecimento que é, ao mesmo tempo que dele decorre e para ele concorre. Qualquer que seja a forma de o dizer, será sempre mais uma reiteração do mistério da "trindade" que lhe é intrínseca.

Sendo esta questão, afinal, de sempre, ela coloca-se com maior acuidade quando o que irrompe é da natureza de um «acontecer» para o qual o termo "místico" reclama a sua própria depuração de toda a carga semântica que sobre ele pesa e que arrasta.