sábado, 26 de junho de 2010

«o fogo e a rosa»

O maravilhoso está em que olhar «este» em particular implica uma escolha que me parece feita não por mim, mas por Alguém por mim (e para mim), apenas estando em mim decidir os passos a dar (ou a não dar) no sentido da aproximação que desejo. O que posso temer, afinal, se, em última análise, será sempre d' Ele a aproximação? Ou não é Ele que me atrai, me seduz, me fascina? O que em mim responde diz-me que assim é, mas não só: se no "outro" brilha o Seu brilho, é ao mesmo tempo como seu que lho reconheço e isto é maravilhoso no seu mistério.

T.S.Eliot num dos seus ensaios (estou mais a evocar do que a citar) escreveu que, sendo raro o místico e raro o poeta (num e noutro caso é do verdadeiro místico e do verdadeiro poeta que fala), mais raro ainda é aquele em quem as duas coisas se reúnem e é poeta e místico. Sem definir nem o poético nem o místico (inefáveis, no seu intrínseco mistério), sei todavia quando tenho diante de mim um poema onde «o fogo e a rosa são um», manifestando-se na atracção, sedução, fascínio que experimento. A tríade acontece, em que Ele está, distinto do "outro" e de mim (ou não gerasse Ele a relação de que irrompe) e é plena a fruição do poema - o mesmo é dizer , com Traherne, a fruição (enjoy), por via do poema, do "outro", de mim mesma e de Deus.

Ao dizer que o mais recente poema do Viandante, intitulado "Cântico", me propicia esta fruição, não quero dizer que outros seus não me a tenham do mesmo modo propiciado já. Não há generalização possível que se possa fazer desta experiência, quando a dor e a alegria são nela como duas cores básicas a possibilitar cambiantes infinitos .