sábado, 26 de junho de 2010

quando as sombras intensificam a luz

O termo "ideal" (ou "idealizar") é um daqueles termos que, por demasiado conotados com correntes de pensamento, deixei há muitos anos de utilizar. Agora quase não entra no meu repertório lexical por razões que têm a ver com saber (e sobretudo sentir) que por mais perfeita que fosse a imagem que "idealizasse" ela estaria sempre infinitamente aquém do "real", como "criatura Sua". Como se esta razão não bastasse, há ainda a de uma espécie de resistência a abstrair para generalizar, resistência que implica um esforço tão imenso quanto inútil, pois que a própria linguagem abstrai e generaliza por mim. Na vida como na escrita, sinto-me «direccionada», porventura mais pelo coração do que pela mente, para olhar o particular, o individual, o singular, o único, numa palavra, "este" que, no seu acontecer, é agora e aqui.

Sempre fui avessa ao plural, ao geral, ao colectivo, é certo. Avessa à generalização tanto quanto à à idealização, a certeza que tenho é a de que "este" que o meu olhar envolve é infinitamente mais perfeito na sua complexidade de luz e sombra do que na imagem que dele fizesse só com luz. Não menos tenho por certo que o que nele se me manifesta de bom e de belo é também o que de verdadeiro o marca e a sombra serve a luz que mais brilha no contraste. Contrariamente ao que envolve percepcionar e apreender, este olhar é de natureza holística, ou não fosse direccionado para a "compreensão".
Diria que a dificuldade em sustentar esta visão só acontece se generalizar. Pelo contrário, no que me atrai, me seduz, me fascina, é imediato o reconhecimento de que as sombras mais intensificam a luz que me é dado ver brilhar.


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