segunda-feira, 5 de julho de 2010

não será assim toda a trindade à Sua imagem?

Foi um longo e estéril esforço o de tentar, no início, chegar a uma definição de "poético" e de "místico", um esforço empreendido na convicção de que tal deveria ser o ponto de partida para a observação do modo como se ligavam num texto. A pouco e pouco e ao longo do tempo tomei consciência de que não se tratava, como pensara, de dimensões inerentes ao texto (ou à linguagem), nem tão pouco à experiência subjacente ou decorrente, nem mesmo à "relação interpessoal" implicada no acto discursivo de escrita/leitura. Agora, diria que o "místico" e o "poético" são intrínsecos àquela tríade dinâmica em que o "terceiro termo" cria a relação de que nasce e em que intervem. Não se trata, pois, de "dimensões" distintas numa relação de mútua implicação, como cheguei um dia a pensar.

Este preâmbulo (em que mais não faço do que reiterar um esforço de reflexão, já muitas vezes aqui empreendido) prepara o que ainda nunca tentei, não obstante o desejo desde há muito me assediar: pensar o «tu» nos "Poemas do Viandante", não de um modo geral e no seu conjunto, mas singularmente, em cada poema como "este poema, agora e aqui".
Em cada um, o poético e o místico são com o belo um só. Pergunto-me se não irromperá qualquer deles da relação que ao mesmo tempo cria. Não será assim toda a trindade à Sua imagem?