sexta-feira, 23 de julho de 2010

1. um enigma, um segredo, um jardim, ...

Quem é o «tu» neste poema? Uma pergunta quase naïf, sendo, porém, a que ainda há pouco tempo fazia quando procurava uma "chave" que abrisse a porta do jardim. Outros tempos houve, mais recuados, em que acreditava que o poema era um enigma que dependia de mim resolver ou contava um segredo que seria destruído assim que fosse revelado (libertado o sol, o que fica são cinzas).

Sempre tomei, como dado assente, que tudo se alicerça à partida na relação interpessoal eu-tu (expressa ou implícita), que cria e é criada pelos intervenientes no acto discursivo assim gerado. Foram profundas as implicações da perspectiva da teoria da literatura que à relação autor-leitor substituiu a de sujeito enunciativo-leitor, "morto" este no processo, tal como o autor. Devo dizer que, esclarecido o entendimento de "morto" neste contexto, esta visão rasga horizontes na sua aplicabilidade à vida, muito em especial à vida da tríade inerente ao que chamamos eu (no seu sentir, pensar, falar, agir).

Num conto experimental (infanto-juvenil), de que creio ter já falado aqui), quis dotar a protagonista de um pendor a unificar dinamicamente, na vida de cada momento, o prático, o teórico e o espiritual, em vez de "separar as águas" como via fazer-se. Esta minha tentativa não foi bem sucedida; ou talvez tenha sido, não sei (ainda proporcionaram uma pequenina ajuda, na forma de um envenenado terceiro prémio, aos animais desprotegidos para quem reverteu; talvez um dia o publique em favor da Associação Zoófila, com mais informação sobre Found, o cão interveniente).