graus de relação
Habitualmente não pensamos a relação inerente ao discurso e só atendemos ao dito e ao modo de o dizer. Sabemos, no entanto, que em toda a interpretação tanto do dito como do modo de o dizer está subliminar mas poderosamente implicada a natureza e a especificidade desta relação essencial e basilar.
O que é dito (inseparável do modo como é dito, obviamente) envolve, por sua vez e do mesmo modo, uma componente interpessoal, digamos que de segundo grau. Quando leio Centuries, posso protagonizar o papel da enunciatária - «the friend of my best friend» - e escutar o que lhe diz como se mo dissesse, tanto mais que T.T. expressa o desejo de vir a poder um dia - hereafter, como diz - dar-se plenamente a cada um como se só ele existisse e mais ninguém: ser todo em todos como Ele. No entanto faz toda a diferença o ele dirigir-se a alguém em particular e não ao leitor em geral (como parece ser o caso em muitas obras congéneres, como a Imitação de Cristo). Há um factor de dramaticidade, se posso falar assim. Ao ler, ora "vejo" Traherne (curiosamente a imagem que sempre dele fiz corresponde aos traços gerais que o representam num vitral recente que o celebra) a escrever o que leio, ou a sua enunciatária lendo-o, tal como eu o estou a fazer quase quatro séculos depois. Se o desfasamento temporal com as suas profundas implicações nos distancia, não deixa o texto, feito discurso vivo, de nos aproximar ou aproximar o primeiro e o segundo grau de relação, chamada a uma nova relação gerada por esse "terceiro" que dela nasce e nela intervém. «Não nos une o Seu sangue?» diz Traherne à sua enunciatária. Toca-me profundamente esta formulação, porém, sabendo que dificilmente seria compreendida nos tempos de hoje, reiterá-la-ia por «não nos une o Seu Espírito?».
Há sempre um "espírito", um terceiro interveniente de ordem espiritual. Nem sempre, porém, será "santo", nada nos trazendo de bom se o não for. Sabemos que o é quando, por Ele, com Ele e n' Ele, nos sentimos imersos no «meio divino», «como uma atmosfera que respirássemos». Haverá, naturalmente, diferentes ordens de intensidade nesta experiência.
O que é dito (inseparável do modo como é dito, obviamente) envolve, por sua vez e do mesmo modo, uma componente interpessoal, digamos que de segundo grau. Quando leio Centuries, posso protagonizar o papel da enunciatária - «the friend of my best friend» - e escutar o que lhe diz como se mo dissesse, tanto mais que T.T. expressa o desejo de vir a poder um dia - hereafter, como diz - dar-se plenamente a cada um como se só ele existisse e mais ninguém: ser todo em todos como Ele. No entanto faz toda a diferença o ele dirigir-se a alguém em particular e não ao leitor em geral (como parece ser o caso em muitas obras congéneres, como a Imitação de Cristo). Há um factor de dramaticidade, se posso falar assim. Ao ler, ora "vejo" Traherne (curiosamente a imagem que sempre dele fiz corresponde aos traços gerais que o representam num vitral recente que o celebra) a escrever o que leio, ou a sua enunciatária lendo-o, tal como eu o estou a fazer quase quatro séculos depois. Se o desfasamento temporal com as suas profundas implicações nos distancia, não deixa o texto, feito discurso vivo, de nos aproximar ou aproximar o primeiro e o segundo grau de relação, chamada a uma nova relação gerada por esse "terceiro" que dela nasce e nela intervém. «Não nos une o Seu sangue?» diz Traherne à sua enunciatária. Toca-me profundamente esta formulação, porém, sabendo que dificilmente seria compreendida nos tempos de hoje, reiterá-la-ia por «não nos une o Seu Espírito?».
Há sempre um "espírito", um terceiro interveniente de ordem espiritual. Nem sempre, porém, será "santo", nada nos trazendo de bom se o não for. Sabemos que o é quando, por Ele, com Ele e n' Ele, nos sentimos imersos no «meio divino», «como uma atmosfera que respirássemos». Haverá, naturalmente, diferentes ordens de intensidade nesta experiência.
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