domingo, 1 de agosto de 2010

«vida em abundância»

Tal como Traherne também Lawrence vê nos «costumes dos homens» a origem do mal. Combate-o em nome daquilo que no homem corresponderá, como diz, à floweriness da flor (já Angelus Silesius com a sua «rosa sem porquê» suscita uma reflexão no mesmo sentido). Lawrence não conseguiu, contudo, alcançar a compreensão a que as suas próprias palavras faziam apelo, perdendo-se naquilo que, à superfície, desafiava os juízos "morais" ou seja, no sentido etimológico do termo, oriundos dos "costumes dos homens", num campo então por excelência "proibido" (como era o caso da sexualidade).
Já Traherne fora mais longe ao discernir a raiz do mal na direcção errada para que, desde cedo, o ser humano é orientada no que chamaríamos hoje o processo de "sociabilização". Rilke, que certamente desconhecia a existência de Traherne, explicita a mesma "revelação" quando diz que a criança é cedo obrigada a «olhar para trás, para o mundo interpretado», deixando de ver adiante « o Aberto» como o animal e o anjo o vêem diante de si.
Hoje, mais do que nunca, a criança é industriada à força nos novos "costumes" que, diametralmente opostos aos victorianos que Lawrence combateu, parecem ser bem mais destrutivos da sua essência trina de corpo-alma-espírito, à Sua imagem. No entanto, realizá-la em plenitude, como a flor realiza a sua essência de flor, será sempre a razão por que estamos aqui e Ele veio para isso mesmo: para que tenhamos «vida e vida em abundância» .