o conceito de cristianismo
Não preciso de definir para mim mesma o "cristianismo" implicado no termo “cristã” quando como tal me assumo. Defini-lo para os outros parece-me muito complicado. Não sei se a dificuldade que assim verbalizo deixa transparecer o reconhecimento de «alguns limites» na minha «reaproximação ao cristianismo». Diria que, em termos muito simples, que sou cristã porque, como cantam as crianças da catequese, «decidi seguir Jesus» e seguir Jesus é querer que Cristo - o Espírito de Cristo - habite em mim, como diz S. Paulo. É, na linguagem dos místicos querer «conhecer a intimidade de Jesus». O importante não é a conceptualização que possa estar subjacente a tudo isto, antes toda a simbólica em que assenta e que é para mim a mais profunda essência do "cristianismo", que professo ao proclamar o Credo, seja o dos Apóstolos, seja o niceno. Conceptualizar envolve desfazer o conceito monolítico e estático de cristianismo a que infelizmente alguns se agarram, tanto dentro como fora da Igreja, seja crendo servi-la, seja crendo miná-la.
Do Antigo Testamento só ressurge no Novo - e ressurge transfigurado - o que Ele viu de bom. É como se tudo o que nos repugna em muitos passos das escrituras judaicas Ele o tivesse "soprado fora", separando o trigo do joio. No entanto é inquestionável que fazem parte da Bíblia estes livros, onde o atroz e o sublime surgem por vezes lado a lado, afinal como no mundo. Tal é o caso do belíssimo salmo 63 (62), o meu preferido, de que excluo sempre - como Ele o faria - os três últimos versículos. Só assim posso compreender o carácter "sagrado" destes textos. A repugnância sentida face ao mal - onde quer que se mostre - é para quem a sente o mais claro testemunho do seu próprio avanço, porventura tanto quanto o êxtase beatífico na contemplação do bem.
Nesta "terceira" (ou quarta, se contar como primeira a do "encontro" sucedâneo à "experiência no sótão") etapa da viagem é ainda e sempre através da poesia e do encontro com o Poeta que me é propiciado este novo reconhecimento.
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