"É tudo verdade"
Um tempo houve em que, perseverando, acabava por só ver a água, apenas a água correndo... Proferia então a palavra sagrada, para mim a mais doce, nas suas sibilantes Não gosto da analogia com a flecha trespassando a "nuvem do não saber". Prefiro pensar num pássaro tornado o próprio voo. O tempo desta experiência, que me parecia de escassos segundos, verificava depois equivaler aos dez a quinze minutos que haviam decorrido cá fora, no mundo – "the basic world", como lhe chamou T.T.
Será que este modo de oração propiciou o acontecer do "acontecimento" que havia de mudar radicalmente a minha perspectiva da vida (e, com ela, da própria vida)? Pode haver experiência pura, sem âmbito ou objecto que a delimite? Se lhe apontar como objecto o nada ou coisa nenhuma, será ainda um objecto que lhe aponto, um âmbito em que a circunscrevo.G. Agamben fala da fé como crença sem conteúdo. "Professar a palavra da fé ", escreve, "não quer dizer formular proposições verdadeiras sobre Deus e sobre o mundo".
Nada de nada aconteceu. Quando dei por mim estava a dizer em voz alta: "então é tudo verdade!" Se me perguntasse o que era "tudo" diria, na altura, ser aquilo de que falam todos os que deram por si transformados sem saber o que os transformou. Diria, como eles, o que os "tocou", só podendo, como eles, dar conta da subsequente tomada de consciência da não consciência do "acontecimento", que não deixa qualquer rasto na memória que não seja o da sua inquestionável ocorrência enquanto puro acontecer, sem sujeito e sem objecto. "Wonder", diria T.T. do sentir por que manifesta essa tomada de consciência, "Infinite Wonder".
Etiquetas: acontecimento, oração, wonder
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