sábado, 4 de julho de 2009

"escriure és per a mi un acte religiós"

Recolhi estas palavras do site de R.Panikkar (em catalão): "... escriure és per a mi un acte religiós… L’escriure em permet d’aprofundir el misteri de la realitat i m’obliga a fer-ho… Escriure implica pensar, però també forjar pensaments, polir-los, guarnir-los... (Invitació a la saviesa).

Interessa-me sempre o testemunho que um autor me possa dar sobre o acto de escrever: o seu (tão singular como ele mesmo). Começo a compreender o que me levava, aqui ou ali, só para ouvir o nome de Jesus : não se tratava, como pensei, de o ouvir na boca dos outros, mas de o ouvir, diferentemente, em cada boca. Transcrevi a citação em catalão nesta demanda de me aproximar o mais possível das palavras efectivamente proferidas (é provável que o autor tenha usado esta língua depois de regressar às suas "origens catalãs", completando o ciclo, como é referido na biografia).

Para o autor que cito, a escrita não visa "aprofundar o mistério da realidade", antes permite e obriga a fazê-lo. Quando enuncia "escrever é para mim um acto religioso", que posso entender por "religioso" nesta enunciação? O significado etimológico (de religare) sugere a religação ao mistério que a própria escrita o chama a aprofundar (mais uma glosa possível do versículo bíblico"o abismo chama o abismo"?)

Para além deste "chamamento", significativo é para mim que veja implicado na escrita não só o pensar, mas o "forjar" de pensamentos e, não menos significativo, o "poli-los e guarnecê-los". Se o pensar pode não envolver a palavra, ela está necessariamente envolvida nos pensamentos que, com ela e através dela, são forjados, polidos, guarnecidos. Linguagem e pensamento implicam-se mutuamente enquanto material a trabalhar, em última análise, enquanto matéria prima da criação.

Continuarei num próximo post.