"Que música é esta, mãe? Que lindo! Que lindo..."
Coloco aqui o quadro que estava a pintar quando acorri a Lisboa para me despedir da minha avó ou para ela se despedir de mim, porque parecia estar apenas à espera de que eu chegasse. Nunca o acabei (o primeiro plano está apenas esboçado) e foi também a última vez que peguei num pincel.
Já quase trinta anos decorreram desde então. No Domingo passado acorri a Lisboa, desta vez, pela minha mãe. Também ela aguardava que eu chegasse. "Liberta-a, Senhor, no teu Espírito", cantei no Seu silêncio. Meia-hora depois ela partia, já no hospital para onde a levaram.
Enquanto procurava encontrar a capela (já lá tinha estado antes) onde pudesse ficar sozinha na contemplação deste mistério que é "passar o umbral" (durante toda a semana senti o que poderia ser a aproximação das esferas de existência que naquele ponto e momento se tivessem tocado), chegou-me aos ouvidos o som de um piano em que alguém estivesse a tocar escalas. Quantas vezes a ouvira praticar assim! Há estas coincidências, pensei, simplesmente porque tudo está ligado a tudo e eu puxei o fio certo, na "ordem implicada".
A capela estava deserta. Da sacristia vinha o som, não do piano, mas de um canto gregoriano. Cheguei a duvidar que fosse uma gravação, pois que era a mais perfeita que já ouvi. Belíssimo o canto, belíssima a voz. Era, de qualquer maneira, uma "coisa feliz que caía" naquele momento, uma graça divina. Fazia tanto sentido que a música a acompanhasse... "Que música é esta, mãe? Que lindo! Que lindo..." Estas foram, reportadas pela minha avó, as últimas palavras do menino, o irmãozinho da minha mãe, que uma leucemia levou a passar o umbral aos doze anos (tinha ela nove). Seria esta música? Não escolheria outra como possibilidade...
Já quase trinta anos decorreram desde então. No Domingo passado acorri a Lisboa, desta vez, pela minha mãe. Também ela aguardava que eu chegasse. "Liberta-a, Senhor, no teu Espírito", cantei no Seu silêncio. Meia-hora depois ela partia, já no hospital para onde a levaram.
Enquanto procurava encontrar a capela (já lá tinha estado antes) onde pudesse ficar sozinha na contemplação deste mistério que é "passar o umbral" (durante toda a semana senti o que poderia ser a aproximação das esferas de existência que naquele ponto e momento se tivessem tocado), chegou-me aos ouvidos o som de um piano em que alguém estivesse a tocar escalas. Quantas vezes a ouvira praticar assim! Há estas coincidências, pensei, simplesmente porque tudo está ligado a tudo e eu puxei o fio certo, na "ordem implicada".
A capela estava deserta. Da sacristia vinha o som, não do piano, mas de um canto gregoriano. Cheguei a duvidar que fosse uma gravação, pois que era a mais perfeita que já ouvi. Belíssimo o canto, belíssima a voz. Era, de qualquer maneira, uma "coisa feliz que caía" naquele momento, uma graça divina. Fazia tanto sentido que a música a acompanhasse... "Que música é esta, mãe? Que lindo! Que lindo..." Estas foram, reportadas pela minha avó, as últimas palavras do menino, o irmãozinho da minha mãe, que uma leucemia levou a passar o umbral aos doze anos (tinha ela nove). Seria esta música? Não escolheria outra como possibilidade...
Deixo as fotos dos dois irmãos, agora reunidos.
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