"faz-me ouvir a tua voz"
O que começa por se manifestar como uma atracção por "alguma coisa de grande que não se sabe o que no mundo possa ser" (cito uma vez mais Traherne neste modo de, numa linguagem quase infantil, dizer Deus) será interpretada diferentemente ao longo da vida, consoante a experiência (em que se inclui a experiência de leitura) que for fazendo aquele ou aquela que a tiver sentido e lhe tiver cedido, buscando-a ou simplesmente entregando-se-lhe sem resistência (o versículo de Jeremias "Seduziste-me Senhor e eu deixei-me seduzir" di-lo impressivamente). É assim que se vai traçando um caminho feito do próprio caminhar (envolvendo paragens e desvios) na direcção dessa atracção, como resposta à "voz desse chamamento".
À primeira impressão parecerá natural que os místicos tenham desde sempre tomado como metáfora para esta força de atracção, uma outra do mesmo modo poderosa - a atracção erótica - que, por ter uma componente biológica, parece mais viva e intensa, na certeza porém de que ambas são inerentes à essência trina do ser humano (a tríade soma-psique-pneuma).
Mas isto não basta para explicar o fascínio que ainda hoje tem o Cântico dos Cânticos e os poemas que inspirou ao longo dos tempos (de que ressaltam Chama viva de amor e Cântico Espiritual de S. João da Cruz) . Este poder de sedução continua a fazer-se sentir hoje em cânticos de interiorização e adoração que são prova viva do imperecível encanto de versículos como "Meu Bem Amado, ei-l'O que vem" ou "Eu sou para o meu Amado, o meu Amado é para mim", ou "Tu que vens ao meu jardim, faz-me ouvir a Tua voz". Maior se torna ainda esse poder e encanto quanto o manifestem as reflexões ou glosas que continua a suscitar. De extrema beleza e poeticidade é a do post do Viandante com o título "De Quedar a En-Gaddi" que me oferece, numa visão do caminho, viagem, ou luz que neste percurso se lhe desenha, abre, ou paira, o que possa ser a outra face de um mistério que apenas pressinto, mas que nem por isso menos anseio aproximar-me de compreender. Traçará este anseio o caminho a percorrer durante o "tempo que resta"?
Foi ao tomar consciência de que os poemas de amor humano que mais me tocam pela sua beleza poderiam do mesmo modo, na tradição dos grandes místicos, ser dirigidos a Deus (na Pessoa do Filho) pela alma enamorada, que pressenti que o discurso erótico em textos desta ordem não é redutível a um mero modo metafórico de expressão para a experiência da "unio", enquanto momento culminante da "via mystica" (de que a "purificatio" e a "illuminatio" constituíssem a necessária preparação). Pelo contrário, dirá um amor de que a experiência do amor divino revela a insonhada possibilidade no momento em que o faz metáfora para si mesmo. É esse algo mais que o torna impossível fora do discurso que o diz dizendo o que não se dá a pensar.
À primeira impressão parecerá natural que os místicos tenham desde sempre tomado como metáfora para esta força de atracção, uma outra do mesmo modo poderosa - a atracção erótica - que, por ter uma componente biológica, parece mais viva e intensa, na certeza porém de que ambas são inerentes à essência trina do ser humano (a tríade soma-psique-pneuma).
Mas isto não basta para explicar o fascínio que ainda hoje tem o Cântico dos Cânticos e os poemas que inspirou ao longo dos tempos (de que ressaltam Chama viva de amor e Cântico Espiritual de S. João da Cruz) . Este poder de sedução continua a fazer-se sentir hoje em cânticos de interiorização e adoração que são prova viva do imperecível encanto de versículos como "Meu Bem Amado, ei-l'O que vem" ou "Eu sou para o meu Amado, o meu Amado é para mim", ou "Tu que vens ao meu jardim, faz-me ouvir a Tua voz". Maior se torna ainda esse poder e encanto quanto o manifestem as reflexões ou glosas que continua a suscitar. De extrema beleza e poeticidade é a do post do Viandante com o título "De Quedar a En-Gaddi" que me oferece, numa visão do caminho, viagem, ou luz que neste percurso se lhe desenha, abre, ou paira, o que possa ser a outra face de um mistério que apenas pressinto, mas que nem por isso menos anseio aproximar-me de compreender. Traçará este anseio o caminho a percorrer durante o "tempo que resta"?
Foi ao tomar consciência de que os poemas de amor humano que mais me tocam pela sua beleza poderiam do mesmo modo, na tradição dos grandes místicos, ser dirigidos a Deus (na Pessoa do Filho) pela alma enamorada, que pressenti que o discurso erótico em textos desta ordem não é redutível a um mero modo metafórico de expressão para a experiência da "unio", enquanto momento culminante da "via mystica" (de que a "purificatio" e a "illuminatio" constituíssem a necessária preparação). Pelo contrário, dirá um amor de que a experiência do amor divino revela a insonhada possibilidade no momento em que o faz metáfora para si mesmo. É esse algo mais que o torna impossível fora do discurso que o diz dizendo o que não se dá a pensar.
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