terça-feira, 18 de agosto de 2009

o dom de amar

No último post coloquei a música de um cântico ao Espírito Santo que tem como título o primeiro verso: "eu navegarei no oceano do Espírito".
Propiciam a um abandono e incondicional entrega a música e as palavras que, na impossibilidade lógica de dizer o indizível, dão lugar ao "cântico em línguas" (em que "o Espírito ora em nós com gemidos inefáveis"). Do mesmo modo diria que o silêncio do olhar ("olho-Te, olhas-me") ou a "oração de Jesus" (o simples pronunciar ou cantar o Seu nome ) propiciam aquilo mesmo que os suscita. Creio ter já colocado aqui a verbalização mais feliz que encontrei para dizer este amor : "O amor com que Te amo és Tu mesmo amando em mim". (Tudo o que se diga a este respeito comporta necessariamente a auto-implicação de um testemunho, com o inerente risco).
Tal como ao Viandante, também se me afigura, porém, maior o mistério do amor humano e não é só por Ele estar mais próximo de mim do que eu de mim mesma ("Ele me sonda e me conhece"). É antes por Ele me dar aquilo que ninguém a não ser Ele mesmo pode dar e que é o próprio dom de amar, de O amar. E, não havendo maior bem do que este, é um bem que nenhum ser humano pode dar a outro, ainda que seja esse o seu maior desejo. Parece tão óbvio e simples e no entanto teve em mim o efeito de uma revelação a tomada de consciência decorrente desta: Ele é também o que eu nunca poderei perder, ainda que tudo perca: até ao último momento Ele estará comigo ("nada nos pode separar do amor de Cristo").
"Se conhecesses o amor de Deus..." Diria que sem o conhecimento do amor de Deus ficaria impressentido o mistério do amor humano, o mistério do que no amor entre homem e mulher o faz metáfora para o amor divino.

(Continuarei)