"Sieh, dieses erschreckt"
Tempos houve em que tinha de dar conta do "trabalho de investigação" à conta do qual assegurava o tempo de que precisava para, usando as palavras de Traherne, procurar a felicidade e fruí-la quando a encontrasse. Foi assim que subordinei aquele "trabalho" a este objectivo, olhando o que me forçava a mascará-lo assim (pura e simplesmente escapar às inquirições e sobreviver no local de trabalho) como by product, algo a vir por acréscimo, mas também a descartar depois. Este foi o princípio orientador de toda a minha "produção científica", nome que, dentro do mesmo campo semântico, tive de dar ao que ia escrevendo, condicionada, é certo, mas sempre com aquela margem de liberdade que fez com que só dedicasse estudo e atenção ao que me desse prazer. Desta máscara estou finalmente livre, chegada a hora de descartar o supérfluo de que já não necessito. É do essencial que me é dado cuidar agora, do percurso do que em mim é o eu verdadeiro, sempre em busca do que já encontrou, ainda que sem saber o que "no mundo possa ser", não sendo do mundo, mas nele acontecendo.
Todo este preâmbulo para dizer que agora posso assumir que escrevo, em coerência com o objectivo que sempre norteou a minha vida, para prosseguir a viagem, que cada vez se torna mais estimulante, ainda que a pressão baixe e o ar se rarifique e o mar de nuvens esconda aos meus olhos as cumeadas, ainda que "me envolva a noite escura e caminhe entre abismos de amargura", como reza o cântico.
No gozo desta liberdade, como vou agora falar de poesia? Ou melhor, o que posso dizer desta poesia, inquestionavelmente de uma imensa beleza em si mesma, mas que acontece deparar-se-me neste ponto exacto da minha viagem para nela fazer sentido? Isto atemoriza. Será este o termo? "Sieh, dieses erschreckt", escreve Rilke no final de "Mariae Verkündigung". "Und sie erschraken beide", conclui assim este poema, que ressurge para mim nos pontos assinaláveis do trilho que vai ficando e que, disto estou certa, não sou só eu que o traço.
Todo este preâmbulo para dizer que agora posso assumir que escrevo, em coerência com o objectivo que sempre norteou a minha vida, para prosseguir a viagem, que cada vez se torna mais estimulante, ainda que a pressão baixe e o ar se rarifique e o mar de nuvens esconda aos meus olhos as cumeadas, ainda que "me envolva a noite escura e caminhe entre abismos de amargura", como reza o cântico.
No gozo desta liberdade, como vou agora falar de poesia? Ou melhor, o que posso dizer desta poesia, inquestionavelmente de uma imensa beleza em si mesma, mas que acontece deparar-se-me neste ponto exacto da minha viagem para nela fazer sentido? Isto atemoriza. Será este o termo? "Sieh, dieses erschreckt", escreve Rilke no final de "Mariae Verkündigung". "Und sie erschraken beide", conclui assim este poema, que ressurge para mim nos pontos assinaláveis do trilho que vai ficando e que, disto estou certa, não sou só eu que o traço.
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